Quando Kalin Bennett recebeu a bola de costas para a cesta restavam dois minutos e 33 segundos. Kent State já vencia por 35 pontos. Bennett deu dois dribles, gancho curto de esquerda e bola na redinha. Três segundos se passaram. Esse foi a marca histórica do primeiro jogador com autismo a pontuar no basquete universitário.
Esse tempo é uma fração irrisória na dura vida de Kalin Bennett. Aos 19 anos, o jovem foi o primeiro com a doença a receber uma bolsa de estudos para jogar basquete.
“Eu quero, eu posso, eu consigo”. Esse é o lema que o jogador leva para sua vida. Ele só conseguiu andar aos 4 anos e falar aos 7. Nunca desistiu. Foi na maioria das vezes testado e conseguiu se sair bem.
Com 7 anos já queria ser jogador de basquete. Com esse lema foi galgando espaço e se destacou no ensino médio a ponto de receber uma bolsa de Kent State.
Gina Campana, diretora-assistente de diversidade da faculdade, foi essencial para isso acontecer. Ela se reuniu com Sonja Bennett, mãe de Kalin, e explicou o programa feito para alunos com autismo. Ela tem um filho com síndrome de Asperger (um transtorno que afeta a capacidade de socializar e de se comunicar; um espectro do autismo). Mais do que ninguém, Gina sabia o que aquela família havia passado.
As duas se tornaram amigas e o caminho para Kalin estava cada vez mais pavimentado.
Kalin decidiu se abrir. Quando ainda estava no ensino médio, abriu sua rede social e postou uma foto com uma legenda específica falando que tinha autismo.
No outro dia, seu celular não parava de tremer e brotar notificações. Eram pessoas do mundo inteiro, outros jovens que haviam jogado com ele e que se identificavam com a situação, falavam que tinham a doença e conseguiam se abrir. Kalin virou exemplo.
Alguns trechos da mensagem de Kalin: "A maioria das pessoas me conhecem por ser muito alto, conseguir jogar na divisão I da NCAA, basquete, minha personalidade... mas ninguém sabe a minha verdadeira história. Meu nome é Kalin Bennett e tenho AUTISMO. Crescendo eu tive dificuldades para compreender as pessoas, eu não falava até os meus sete anos e estava acostumado a sofrer bullying, estava acostumado a não saber quando estavam me zombando e mexendo comigo... Meu sonho e desejo é jogar na NBA, sei que tenho que superar diversos desafios e outros obstáculos, mas com a graça de Deus eu consigo estar aqui e fazer o que muitas outras crianças geralmente não conseguem porque as pessoas nos colocam limites... Eles dizem que não vou ser nada, que não terei uma vida, que não posso ter sonhos, mas a cada dia eu continuo provando que eles estão errados e meu sonho vai se tornar realidade. Não escrevo isso para me tornar famoso, escrevo para que as pessoas saibam minha história e que eu possa inspirá-las para que continuem perseguindo seus sonhos, não importando o que as pessoas dizem...".
“É bom saber que você pode ajudar outras pessoas e inspirar crianças a seguirem seus sonhos, não importando as dificuldades e o quão longe esteja”, falou o jogador ao site Record-Courier.
Foi sendo um exemplo que Kalin entrou em quadra no primeiro jogo da temporada da NCAA. O calouro viu do banco seu time abrir vantagem e a ansiedade para entrar em quadra aumentava.
Quando Rob Senderoff, técnico de Kent State, o chamou, foi aquele momento de fazer história. Tudo isso com sua mãe, seu pai, Gerald, e suas irmãs, LaTonya e Subrena, na arquibancada.
Foram seis minutos em quadra. Dois pontos históricos, dois rebotes e um toco para o menino de 2,10m.
“Sua força está além do tamanho. Temos que trabalhar sua consciência de espaço, habilidade para controlar o corpo, ensiná-lo a como se movimentar na quadra. Tudo no seu tempo”, disse Brice Cox, técnico de performances da Universidade.
Mas Kalin sabe que nada é fácil. Nunca esperariam que ele jogaria o College. Ele já está lá. E os objetivos são ainda maiores…
“Ele já me disse: ‘Mãe, meu próximo passo é a NBA’ e eu não duvido mais nada, só corra atrás, filho”, comentou Sonja.
Talvez daqui alguns anos Kalin esteja fazendo os primeiros pontos de um autista na NBA.