Era começo de outubro quando um homem aparentemente viciado em drogas, alto, com olhos esbugalhados, rosto esquálido e macacão sujo, abordou a enfermeira Wanja Mwaura, de 32 anos.
Ela estava a caminho do mercado no bairro de Lower Kabaete, perto de Nairóbi, capital do Quênia, quando escutou ele gritar seu nome.
Ela não o reconheceu imediatamente, mas quando Patrick "Hinga" Wanjiru, de 34 anos, se apresentou, ela percebeu que era seu antigo amigo de escola, mas com algumas diferenças: ele estava viciado em heroína e vivendo na rua havia quase uma década.
A amiga ficou assustada, e Wanjiru se aproximou e disse que queria apenas dizer um "oi". Ela, então, perguntou se poderia pagar um almoço para ele.
"Dei meu celular para ele e disse que podia me ligar se precisasse de qualquer coisa", lembra ela. Nos dias seguintes, Wanjiru pedia telefones emprestados e ligava para a amiga. Falou que estava comprometido a ficar limpo das drogas.
"Decidi que precisava fazer algo para ajudá-lo", diz Mwaura.
O reencontro levou a enfermeira a começar uma campanha nas redes sociais para arrecadar dinheiro para que Wanjiru se tratasse do vício em drogas em uma clínica de reabilitação. Ela também passou a dar aulas para o ex-colega.
"Ir para a clínica de reabilitação aqui é muito caro e eu não tinha condições de conseguir esse dinheiro sozinha", diz.
Ela criou uma página para arrecadar doações, mas só conseguiu inicialmente o equivalente a 300 libras (R$ 1.290). E o custo de nove dias de tratamento numa clínica em Nairóbi era mais que o dobro do que eles arrecadaram.
Mesmo sem ter certeza se o conseguiria pagar pelo tratamento, ela decidiu levá-lo mesmo assim ao centro de tratamento, afinal, havia feito uma promessa ao amigo.
Mas felizmente, tudo deu certo, e apenas alguns dias depois, Wanjiru ganhou peso e sua capacidade de concentração melhorou. Feliz com a recuperação do amigo, Mwaura usou sua conta pessoal no Facebook para contar a história:
"Há uma semana, eu e Hinga não conseguíamos conversar sem eu ter que segurar sua cabeça para que ele se concentrasse. Hoje, tivemos uma conversa normal com ele me olhando nos olhos confiantemente", escreveu.
Depois da publicação, Fauz Khalid, um empresário da cidade de Mombasa, viu o relato de Mwaura e pediu para compartilhá-lo em uma plataforma maior.
Khalid postou a foto de Mwaura e Wanjiru no Twitter e o post viralizou, sendo compartilhado mais de 50 mil vezes.
Em seguida, a imprensa queniana se interessou pela história e a clínica Chirono decidiu oferecer gratuitamente o tratamento para Wanjiru.
Segundo Mwaura, foi uma "bênção", mas, disposta a submetê-lo a um tratamento mais prolongado, ela está agora levantando fundos para custear sua internação por 90 dias.
"Wanja é um anjo enviado por Deus. Eu devo a ela a minha vida. Ela se tornou mais próxima do que um irmão ou irmã", diz Hinga.
"As pessoas dizem que eu mudei a vida do Hinga, mas ele também mudou a minha", diz. "Eu me dei conta de que uma pequena ação pode mudar a vida de uma pessoa", conclui Wanja.