Não é por acaso que a maioria dos regimes totalitários atacam e muitas vezes destroem as instituições de ensino e os meios pelos quais o aprendizado se dá: universidades, escolas e bibliotecas costumam ter de se submeter à loucura de tais regimes ou à destruição, pois se o conhecimento é o mais eficiente caminho para a liberdade, a ignorância é irmã do autoritarismo. Assim, quando o grupo terrorista ISIS tomou conta da cidade iraquiana de Mosul, em 2014, seus militantes rapidamente saquearam a universidade local e incendiaram sua biblioteca.
Acima, a universidade e sua biblioteca antes do ataque
Centenas de milhares de livros e manuscritos foram destruídos - incluindo, além dos livros em diversas línguas, mapas históricos, periódicos da era Otomana, manuscritos ancestrais e até mesmo um exemplar do Corão, livro sagrado muçulmano, do século IX. Depois de tomarem a universidade, os militantes do ISIS obrigaram os professores a reescreverem os livros didáticos, adaptando-os à nova realidade e ao novo sistema de ensino que seria imposto com o califado que agora governaria a região.
A biblioteca, depois do ataque © Mohamed El-Shahed
Aos poucos, porém, as forças de segurança foram retomando os arredores da cidade e boa parte de Mosul voltou a pertencer ao povo iraquiano. Com isso, um blogueiro anônimo começou uma campanha tão bonita quanto foi terrível o que ocorreu na universidade, para recuperar a biblioteca e principalmente seu acervo. O blogueiro, conhecido como Mosul Eye (Olho de Mosul), se formou e era professor na universidade - que foi fundada em 1967 e é uma das mais importantes da região. Assim que o bairro onde a universidade está localizada foi retomado e liberado, um mutirão começou a reformar o local.
Mais de 2 mil volumes foram recuperados ainda intactos do incêndio e, através de vendedores locais, doações da população e também doações de todo o mundo, cerca de 10 mil livros já foram reunidos para a nova biblioteca - o plano é chegar a 200 mil, para enfim reabri-la.
© Sabah Arar/AFP/Getty Images
Até mesmo um festival foi organizado para ajudar na reconstrução. Todo tipo de livro está sendo aceito, e a ideia reabrir a biblioteca de Mosul no início de 2018.
© Ali Al-Baroodi
"Precisamos reconectar Mosul com o resto do mundo", disse Mosul Eye, "Precisamos que o mundo mantenha o mesmo interesse por nós que tinham quando o ISIS tomou a cidade. Não nos abandone agora".
© fotos: Mosul Eye/Divulgação