A Islândia mais uma vez aparece no topo do Índice Global da Paz. São 10 anos consecutivos na primeira posição como o país mais seguro do mundo.
Sempre penso na segurança invejável desse país quando vejo uma criança pequena andando desacompanhada pela rua ou passo por um carrinho de bebê parado sozinho à porta de algum restaurante, esteja ele com ou sem seu ocupante dentro.
As bicicletas encostadas em cercas já renderam piadas entre brasileiros que vieram visitar. Uma amiga disse que seria só passar com uma caminhonete coletando todas e depois usar um alicate para tirar os cadeados que travam o movimento de uma das rodas mas que não prendem a bicicleta à nada.
Claro que mesmo no país mais seguro do mundo há crimes. No início do ano, por exemplo, um assassinato de uma jovem chocou e mobilizou todo o país. Mas casos assim são raríssimos. E mesmo quando se trata de pequenos crimes e delitos, quase não se ouve falar deles. Tanto que há algumas semanas saiu no jornal uma notícia sobre um assalto que ocorreu na minha rua.
Dois sujeitos atacaram alguém para roubar um celular e depois espancaram outro numa praça há algumas quadras quando essa outra pessoa se recusou a comprar à força o celular roubado. Os dois ladrões logo foram presos. No Brasil, um roubo de celular raramente viraria notícia. Aqui, o caso apareceu em todos os veículos de notícias.
Eu diria que, no dia-a-dia, a grande paz islandesa manifesta-se numa tranquilidade geral, que deve ser um reflexo da sensação de segurança fornecida pela quase inexistência de crimes.
É difícil não reparar na tranquilidade do país, mesmo quando acostuma-se com ela. Tem dias que há no ar uma calma tão absoluta que é chocante. Parece uma quietude infinita, mesmo com carros e pessoas passando, uma coisa curiosa que nunca senti em lugar algum.
É essa tranquilidade que a maioria dos estrangeiros nota ao vir morar aqui. Semana passada encontrei uma conhecida iraniana no ônibus e, conversando sobre nosso país adotado, concordamos que uma das coisas que mais gostamos daqui é a calma. Uma outra amiga - essa espanhola - foi embora da Islândia há algumas semanas e na sua despedida ela mencionou também a tranquilidade do país como algo da qual sentirá muita falta.
Quem vê com olhos de fora talvez enxergue tédio, vidas monótonas e insípidas, ou não entenda como é possível aguentar morar em uma cidade tão pequena e pacata. E é até difícil transmitir aos outros o que é essa calma que existe mesmo com agitação.
É uma paz que parece vir do ar, das montanhas e dos grandes espaços abertos que levam o olhar bem longe até chegar ao horizonte. Um silêncio que não é a ausência de barulho, mas sim a presença de algo. Uma tranquilidade que faz a vida ser mais fácil de ser vivida. Sem dúvida uma sensação única que sei tenho o privilégio de poder sentir.