Parecia uma lenda urbana que sobrevivia no imaginário dos moradores de Uley, um pequeno vilarejo inglês: segundo dizem, um gorila teria vivido em meio à comunidade por volta de 1920. Agora, fotos comprovam que a história de John Daniel é verdadeira.
O acervo foi encontrado por Margaret Groom, que escreveu um livro sobre o vilarejo. Ela conta que o gorila foi levado a Londres em 1917 por soldados franceses, que mataram os pais do animal no Gabão. Na capital inglesa, ele foi comprado por Rupert Penny, morador de Uley, por 300 libras, o que hoje equivaleria a cerca de 20 mil libras. Rupert foi quem batizou John Daniel.
Foi Alyce Cunningham, irmã de Rupert, quem criou John como se fosse um menino. Ela o ensinou a usar interruptores de luz e o vaso sanitário, além de arrumar a cama e ajudar na limpeza. Alyce o enviava para caminhar com os estudantes da escola local, e ele até ia à aula de vez em quando.
Os jovens levavam John para lá e para cá usando carrinhos de mão, e ele gostava de comer rosas dos jardins. Também era fã de cidra, e às vezes entrava em alguma casa para pedir uma caneca. John admirava o trabalho do sapateiro de Uley e costumava observá-lo em ação.
Alyce também levava John para sua casa em Londres, onde ele frequentava jantares e tomava o chá da tarde. Sua história, porém, mudou de rumo quando ele ficou grande demais para viver em Uley. Ele foi comprado por um norte-americano que prometeu leva-lo a uma grande casa na Flórida, mas acabou em um circo e, depois, num zoológico de Nova York.
Sentindo falta de Alyce, sua saúde deteriorou. A administração do Madison Square Garden entrou em contato com a inglesa e pagou para que ela viajasse até os EUA para reconfortar John Daniel. Infelizmente não deu tempo: ele morreu de pneumonia antes que sua tutora pudesse completar a viagem.
O corpo de John Daniel foi dado ao Museu de História Natural de Nova York, onde ele começou a ser exibido em 1932 e permanece até hoje. Uma exibição de arte será realizada em Uley neste ano em homenagem aos 100 anos de sua chegada ao vilarejo.
Todas as fotos © Arquivo público de Uley