Quando um conflito armado parece nunca ter fim, uma solução que promova paz duradoura raramente é levada à sério. Embora pequenos atos de empatia e generosidade possam não mudar um contexto mais amplo, há algumas pessoas em ambos os lados do conflito que continuam buscando a paz de toda forma.
É o caso da professora israelense Idit Harel Segal, que dá aulas para crianças do jardim de infância e é mãe de 3 filhos. Recentemente, ela queria fazer algo significativo para comemorar seu aniversário de 50 anos: ao invés de receber um presente, ela escolheu dar um.
Em memória de seu falecido avô, Idit decidiu doar um rim. O presente da professora não só se alinha com sua fé judaica, mas também foi sua maneira de estender um ramo de oliveira, pois o destinatário do rim era um menino palestino de 3 anos que mora na Faixa de Gaza.
Apesar das rígidas restrições que dificultam o acesso de palestinos à Israel (e vice-versa), a ONG Matnat Chaim, com sede em Jerusalém, conseguiu providenciar o procedimento cirúrgico da criança por motivos humanitários.
Segundo a entidade, para colocar o menino no topo da lista de transplantes em Gaza, seu pai também concordou em doar um rim para uma paciente israelense, uma mãe de dois filhos, de 25 anos.
Após muita luta e resolução de burocracias, a cirurgia foi agendada para o dia 16 de junho de 2021. No entanto, antes de acontecer, Idit queria ter certeza de que o menino saberia o quanto este presente significava para ela, então enviou-lhe uma carta.
“Você não me conhece… Você não entende minha língua e eu não entendo a sua, mas em breve estaremos muito próximos porque meu rim estará em seu corpo”, escreveu a professora. “Espero de todo o coração que esta cirurgia tenha sucesso e que você viva uma vida longa, saudável e significativa”, completou, acrescentando que ele, quando crescer, compreenda o valor que esta ação teve para ela.
No hospital, Idit encontrou-se com o garoto e sua mãe. Ela sentou-se ao lado deles em sua cama de hospital e, enquanto a mãe consolava o filho, Idit cantou para ele até que ele adormecesse.
“Ele adormeceu e depois fui-me embora. Eu chorei”, lembrou a israelense em entrevista à Associated Press (AP). “Foi realmente comovente. No fundo, eu sabia que fiz algo de bom”.
Idit admite que sua decisão não foi bem recebida dentro de sua própria família. Seu marido, filho mais velho e pai inicialmente se opuseram ao plano.
Mas ela – considerando o gesto como a melhor forma de honrar os valores do amado avô que ela perdeu cinco anos antes – manteve-se firme em uma decisão que ela diz ter vindo na sequência de uma eclosão de 11 dias de novas hostilidades entre Israel e Palestina.
“Joguei fora a raiva e a frustração e vejo apenas uma coisa. Vejo esperança de paz e amor”, disse ela à AP. “E se houver mais como nós, não haverá nada pelo que lutar.”
Eventualmente, sua família passou a apreciar e abraçar a escolha que ela fez.
Idit acredita que, em contraste com os grandes conflitos e decisões políticas mirabolantes, o que ela fez é apenas “uma coisa pequena” – mas relevante e poderosa, – um passo na direção certa, – sempre em busca da paz.