Um dos grandes dilemas que o Brasil está passando no meio dessa pandemia do coronavírus é o EAD (Ensino à Distância). Quero nesse breve texto levantar uma reflexão sobre um dos maiores empecilhos para que ele aconteça de forma efetiva: os milhões de estudantes que não têm computador ou acesso à internet.
Eu me inspirei em diversas falas da querida Profa. Viviane Mosé nas Lives pelo Instagram. É compreensível dizer que não se pode ter as aulas remotas porque milhões de alunos não têm computador ou acesso à internet e por isso o melhor é esperar que a pandemia arrefeça para só então retornar às aulas presenciais.
Ok! Caso a pandemia durasse apenas 1 ou 2 meses essa seria uma solução perfeitamente viável, porém, o que complica é que o coronavírus tem se mostrado não só no Brasil, mas no mundo todo, bem mais contagioso e letal do que se podia pensar no começo de 2020.
Estamos no inicio de julho (data em que escrevo esse texto) e o Brasil nem sequer superou a 1ª onda da Covid-19. Talvez a 2ª onda se estenda muito facilmente até 2021. Ou seja, é absolutamente imprudente e até perigoso retornar às aulas presenciais ainda esse ano no Brasil. Talvez isso aconteça, mas a minha posição é de que seria melhor não acontecer tal retorno ainda em 2020.
Quer dizer que teremos um ano perdido em termos educacionais? Agora chegou o âmago da questão, o que eu realmente quero tratar nesse texto! Claro que o ideal para essa pergunta é um sonoro NÃO. Mas estamos no Brasil, e aqui, infelizmente, isso é possível!
A pergunta a ser feita não é “Quando retornaremos às aulas presenciais?”. A pergunta a ser feita é: “Por que milhões de estudantes não têm computador e internet em casa?”. O buraco é mais embaixo para respondê-la, pois acertamos em cheio o que considero o maior problema do nosso país, a DESIGUALDADE!
Milhões de estudantes não têm computador e internet em casa porque seus pais têm condições financeiras precárias ou mesmo miseráveis em muitos casos. Muitos estudantes de escola pública moram em casebres sem infraestrutura de saneamento básico, com apenas alguns eletrodomésticos e várias pessoas confinadas quase que em cubículos minúsculos. Como você pode querer que essas pessoas tenham uma internet veloz em casa? Com um computador pras crianças e adolescentes assistirem aulas pelo Zoom ou Google Meet? Muitos estudantes nem sequer conhecem essas plataformas de aulas ou como entrar em uma reunião?
O que a Viviane Mosé propõe e tenho consciência de que é extremamente desafiador é haver companhas de doações de computadores velhos, mas em bom estado de uso para algum órgão educacional, ou doações em dinheiro para campanhas que comprem computadores para a garotada. Claro que incluindo nisso tudo projetos que disponibilizem acesso à internet para famílias carentes e de baixa renda.
Sabemos que para tais projetos saírem do papel e serem executados é preciso haver mobilização política e empresarial. Mas aí surge um novo problema, pois apoio político não tem como vir de cima, do Governo Federal. Estamos há mais de 100 dias em quarentena e no momento não se tem um Ministro da Educação fixo no cargo! Isso é estarrecedor…
Assim como o apoio empresarial é bem pouco provável surgir das grandes empresas, porque nesse momento elas só pensam em redução de custos e enxugamento de suas planilhas de gastos e cobranças.
Poucos levantam essas questões exatamente porque o que estou tratando é o caminho mais difícil. O caminho mais fácil é esperar que a pandemia passe e o Ensino continue à Deus dará…
A solidariedade, a generosidade, a disponibilidade, a abertura, são valores e virtudes que andam bem em baixa há muito tempo. E posso garantir que nosso país está como está porque falta desenvolvermos tais valores.
Um exemplo simples! Muitos pais ricos dão ótimos computadores aos filhos e depois de um tempo compram um mais moderno e com mais recursos. E o que fazem como o PC antigo? Vendem no OLX! Nem passa pela cabeça de vários deles doar para uma escola ou instituição… É um individualismo sem tamanho…
Se mais pessoas abastadas fizessem doações de PCs ou doações em dinheiro para companhas educacionais, certamente não se resolveria o problema em nível de país, mas ajudaria pelo menos em nível local.
Percebo que há uma ilusão que desmotiva milhares de pessoas, se trata de pensar em nível de Brasil. Grave isso em sua mente! Campanhas educacionais como a que estou propondo aqui podem não atingir e ajudar milhões de estudantes, isso seria quase impossível! Mas pode sim ajudar milhares.
Imagine! Por exemplo: 1000 alunos em uma cidade pequena no interior de SP que antes não tinham internet e PC e agora passaram a ter? São 1000 mentes pensantes estudando e se desenvolvendo. Percebe que incrível?
Com esses 1000 estudantes progredindo e se aperfeiçoando, o caminho natural é que um projeto como esse se expanda pra outros 1000 e outros 1000 e assim as mudanças vão acontecendo!
Sei que esse texto pode parecer utópico e ingênuo da minha parte, mas tenho consciência de que é na junção de muitas mentes com intenções positivas como a minha que é possível haver maiores movimentações e mobilizações para que seja feito algo em prol da Educação!
Essa pandemia está nos dando uma oportunidade preciosa de diminuir o abismo que existe entre os ricos e os mais pobres, mas para isso acontecer, é preciso olhar com mais atenção para as desigualdades e perceber que nós só seremos uma humanidade melhor e mais evoluída quando não houver esse enorme disparate educacional e com todos tendo um acesso melhor e mais rápido à internet e tecnologias. Assim, cresceremos todos juntos como nação…