No começo da semana, um amigo querido me enviou um vídeo do Lenine cantando Paciência. A letra é conhecida, mas naquele momento, os versos “enquanto todo mundo espera a cura do mal; e a loucura finge que isso tudo é normal; eu finjo ter paciência…“ fizeram muito sentido. Eu estava no trabalho, lidando muito mal com minhas emoções confusas e tentando resolver minha inquietação com excessos de palavras, questionamentos, necessidade de controle e insistência.
Eu não estava doente, mas estava deixando de respirar. O ar entrava pela metade, e saía logo em seguida. Meu pescoço estava rígido, os ombros tensionados, a mandíbula travada. Estava tensa pelas notícias que não paravam de chegar, pelo medo, preocupação, pela nova função que eu tinha acabado de assumir por ser funcionária do SUS e, portanto, convocada para esse momento. Além disso, o que me afligia eram as relações com aqueles que amo e que, de uma forma súbita, haviam se modificado de forma drástica.
Ainda sem consciência, entre uma atividade e outra eu abria o WhatsApp, ouvia os áudios, respondia às mensagens, entrava nos grupos, encaminhava um artigo, vagava pelo Twitter, abria o Instagram, corria os olhos pelo Facebook, reabria o WhatsApp, salvava mais uma figurinha, ligava para casa, gravava um áudio… e assim ia, enquanto trabalhava e fingia ter paciência.
Naquela tarde, porém, sucumbi. Exausta pelos meus excessos, deletei (literalmente) WhatsApp e Instagram. Troquei Twitter, Facebook e tevê pelo YouTube e descobri uma quantidade incrível de vídeos interessantes produzidos na quarentena. Meditei e voltei a respirar. Mas, principalmente, decidi silenciar.
É impressionante a quantidade de coisas que se organizam dentro da gente quando decidimos silenciar. É no silêncio que o entendimento acontece, que deixamos de querer controlar tudo, que aceitamos que a vida tem seu próprio roteiro e não dá para querer contar a história exatamente como a gente planejou. É no silêncio que a gente entende que só o tempo vai nos dizer o que fazer, que nem toda ação merece uma reação, e que toda insistência leva embora a nossa paz.
No silêncio descobrimos onde devemos investir nosso tempo e afeto, abrimos mão das armadilhas do ego, desistimos de querer ter razão. No silêncio aprendemos a nos proteger e fortalecer, a não nos vitimizar, a não nos culpar. No silêncio encontramos as respostas que buscamos e aprendemos a ouvir a intuição. Ao silenciar, naturalmente descobrimos onde devemos nos demorar. Abrimos mão de relações indignas e não nos contentamos com migalhas afetivas. Ao silenciar, reaprendemos a respirar. A nos acalmar. A recomeçar.
Às vezes estamos tão empenhados em provar nosso ponto de vista, tão focados em termos razão, tão urgentemente necessitados em dar ou exigir uma resposta… que nos afastamos de nossa paz, perdemos a capacidade de nos acalmar e de enxergar as coisas como elas realmente são. Muita coisa é simples, a gente que complica. Muita coisa é óbvia, a gente que não enxerga. Muita coisa não está sob nosso domínio. E ponto final.
Algumas distâncias são necessárias. Nos permitem redimensionar a importância de alguém, nos dão entendimento sobre nosso valor ou insignificância, nos ajudam a valorizar o encontro, nos trazem paz quando a interação é conflituosa. No distanciamento muita coisa é resolvida sem precisar ser dita, e permanece o que tem que permanecer.
Depois de dois dias, ontem precisei reinstalar o WhatsApp e Instagram. Porém, a mudança me trouxe tantos benefícios que desde então tenho me conectado menos, e buscado o silêncio como uma forma de me resguardar e me reconectar comigo mesma.
Descobri que de vez em quando temos que fazer quarentena das conexões que temos uns com os outros, pois mesmo que o mundo tenha desacelerado, dentro de alguns de nós o trânsito continua congestionado.
Que você tenha paz e paciência. A vida é tão rara…
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