A Raíssa Nascimento é notícia boa de novo! Depois de passar em medicina na UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – agora a jovem filha de diarista e pai desempregado está vivendo de perto a força da solidariedade.
Depois de fazer a matrícula, a estudante de 21 anos de Guararapes, em Natal, começou a receber ajuda de várias partes, inclusive de futuros colegas de profissão.
“Já ganhei dois jalecos, dois estetoscópios, livros, materiais para as aulas de instrumentação, muita coisa [que] eu não teria como comprar”, disse ao G1.
Alguns dos presentes foram dos próprios estudantes da universidade.
Sobre os livros doados, ela confessa que ainda não contou quantos recebeu.
Emprego
A repercussão da aprovação rendeu até uma proposta de emprego para o pai de Raíssa, seu Moisés Afonso, que está sem trabalho fixo há cerca de quatro anos.
A felicidade maior dele, no entanto, é pelo sonho alcançado por ela.
“É uma alegria grande ver um filho alcançar o que sempre quis. Ela tinha coleções de séries de médico”, lembra.
História
Raíssa é a primeira filha, entre os quatro da família a conseguir entrar em um curso superior e já está inspirando os irmãos, que querem fazer ensino superior também.
Para se manter durante os estudos, ela pretende buscar auxílios oferecidos pela instituição, como teve nos quatro anos do curso técnico de Edificações no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), onde terminou o ensino médio.
Na instituição, ela recebia uma bolsa de R$ 300, além de auxílio de transporte de R$ 60 mensais e almoço diariamente. “Sem isso, não teria conseguido”.
Ônibus
Durante o cursinho preparatório para o Enem, por exemplo, muitas vezes era preciso escolher entre a passagem de ônibus para ela ou para o irmão, Daniel, de 19 anos, que quer fazer o curso de Direito.
Além disso, era preciso gastar três horas diárias no transporte público entre a casa e o local de aula.
“Eu aproveitava esse tempo para ler, mas depois comecei a ter dores de cabeça e parei”, diz.
Ela falou sobre a importância do sistema de cotas para conquistar o sonho dela.
“Não é falta de capacidade, falta de querer. É falta de oportunidade mesmo. E são as cotas que possibilitam que a gente consiga entrar na universidade. Tem muita gente que usa indevidamente? Tem. Até porque fui fazer a matrícula e na minha lista tinham 15 negros. Lá tinha algum? Não. Só eu”, declara.
A potiguar vai começar o curso de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em julho.