As irmãs gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, de 11 anos, criaram um projeto de leitura infantil para crianças da comunidade do Morro da Providência e seu entorno, no Rio de Janeiro.
A ideia das duas, além de incentivar a leitura, é mostrar para as crianças uma alternativa à realidade de violência no Rio de Janeiro.
O projeto Pretinhas Leitoras nasceu em 2015, na casa das gêmeas, por causa dos tiroteios no local.
“A gente morava em uma região que tinha muito tiroteio e por isso tínhamos que ficar dentro de casa”, explica Helena.
Dois anos depois veio o canal no Youtube. É nele que as meninas compartilham com o mundo o que mais amam fazer: ler.
Elas se denominam ‘booktubers’ e compartilham seu amor pelos livros com as crianças em encontros mensais.
Preconceito
As crianças da região debatem um livro escolhido de acordo com as angústias compatíveis com suas vivências como, por exemplo, o enfrentamento do racismo nas escolas.
“Antigamente a gente não se aceitava como era por causa do nosso cabelo e nossa cor”, conta Duda.
A biblioteca pessoal dela tem títulos como Solta os cabelos, Maria, Meu crespo é de rainha e Amoras.
Para ela, que pretende fazer doutorado em literatura negra, os livros são uma forma de “incentivar pessoas negras a se amarem através de outras histórias.”
Já Helena diz que quer ser professora para “contar a história do nosso povo” e sonha com uma vida diferente para as crianças da região.
“Quero que elas tenham sonhos que possam realizar, que acessem a biblioteca e que tenham um lugar que possam se sentir seguras, sem tiroteio e violências.
“Filhas excepcionais”
A mãe das gêmeas, Elen Ferreira é professora da educação básica, pesquisadora voltada para infâncias e apaixonada pelas filhas.
“Minhas filhas não são excepcionais. Não são mais ou menos inteligentes, são crianças que tiveram acessos”, afirma Elen.
“Na primeira favela do Brasil não tem uma biblioteca, um espaço de teatro. Nós temos crianças fadadas ao encarceramento domiciliar sem cometer delito nenhum. O país prepara infâncias negras e pobres para ficarem enclausuradas desde a mais tenra idade.”
Se duas meninas de onze anos que sonham em fazer doutorado, ou mudar a realidade da região em que vivem soam como ‘crianças prodígio’ para a maioria, para Elen as ambições das filhas são absolutamente naturais.
“São sonhos que reivindicam qualidade de vida e segurança, muito mais palpáveis do que ir pra Disney. Helena quer ir para o Canadá, mas digo a ela que o Canadá é logo ali, pode acontecer a qualquer momento. A luta pela segurança das crianças do Brasil, no entanto, precisa de uma disposição de vida.”
Com informações do R7