A vida nunca foi fácil para a escritora Débora Moreno, de 44 anos. Moradora do Morro do Estado, em Niterói , ela começou, há mais de três décadas, a catar lixona rua para ajudar a mãe. Na época, tinha apenas 6 anos. Não foram poucos os momentos de turbulência em casa, em que a família passou fome. Só que a rotina nos ferros-velhos , em que catava tudo que visse pela frente para transformar em renda, lhe abriu um mundo novo. A menina Débora logo se encantou pelas capas coloridas de livros que encontrava pelo caminho das coisas que as pessoas jogavam fora.
A partir daí, passou a ser movida pela paixão da leitura e pelo sonho de escrever seu próprio livro. No dia 5 de setembro, na XIX Bienal do Livro , ela vai lançar “Lolita, braço de fita”.
— Até hoje, muitas vezes, eu sou a Lolita da vida real. A história reflete um pouco do que vivo e do que as crianças de comunidades vivem. Muitas pessoas nos tratam com indiferença e preconceito. Espero que minha vida possa mostrar que ainda é possível sonhar — diz Débora que, nos últimos anos, além de catar latinhas, também fez faxinas e trabalhou em telemarketing.
A ex-catadora coletou latinhas até os 38 anos. Foi assim que criou sozinha o filho Alex Moreno, hoje com 24 anos. Desde que a escritora começou a escrever, em 2010, com “Sapatos do Tempo”, ela passou a ser convidada para palestras em escolas públicas. Débora gosta de ser exemplo de superação. Nas apresentações, ela veste uma capa feita com quase 900 latinhas, retiradas das ruas, que foram amarradas a lápis e cadernos.
Débora já escreveu oito exemplares. “Lolita” é a história de uma boneca de pano que fala de superação. Para baratear os custos da edição colorida, como sempre imaginou, a própria autora fez as fotos do livro e, nos últimos cinco meses, economizou para pagar os 500 exemplares. Hoje, é só alegria ao ver sua criação recém-chegada da gráfica, que cresceu com o convite inesperado de participar da Bienal.