O comerciante Antonio Nunes, de 35 anos, cresceu tendo conhecimento de uma triste realidade: nos anos 1980, sua mãe entregou os dois irmãos caçulas para adoção logo após o nascimento, alegando não ter condições de criá-los. Ele próprio foi criado pela avó, por ser o mais velho.
Antônio sabia da história dos irmãos porque sua avó contou a ele na juventude. Além disso, a única informação que ele tinha era a data de nascimento dos caçulas, não tendo sequer os nomes deles.
Apesar de manter contato com a mãe biológica, nunca foi próximo à ela.
Em 2016, Antonio conheceu Jefferson Greueli, seu irmão do meio, um ano mais novo. Com o falecimento do pai de Jefferson, a mãe adotiva contou a história de sua família biológica e de seus irmãos – rapidamente ele conseguiu se encontrar com Antonio.
A dupla uniu forças para encontrar o mais novo. Munidos da data de nascimento do irmão, eles tentaram levantar informações no sistema público de adoção, sem sucesso.
Lembrando-se da mulher que intermediou a relação entre a mãe biológica e a família adotiva, Antonio foi em sua busca. A cabeleireira, no entanto, já não tinha mais contato com ninguém e dispunha apenas do nome do pai adotivo: João.
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Além do nome, ela deu outra pista: tinha encontrado o irmão desconhecido ‘sem querer’ numa seção de votação do Cedup, nas eleições municipais de 2016. Em outras palavras, o caçula ainda morava em Blumenau.
Com a esperança renovada, Antonio e Jefferson continuaram procurando o irmão, mas o tempo passou e nenhuma notícia nova surgida. Até um acaso acontecer.
Um amigo das antigas
Antonio é dono de uma revenda de gás no bairro da Velha, em Blumenau, chamada “Tonho Gás”.
Em uma das muitas entregas que faz regularmente, conheceu Maicon Luciani, que trabalha numa empresa-cliente. Ao longo de quase dez anos, eles se encontravam com bastante frequência, e acabaram virando amigos.
No final do ano passado, Antonio viu uma publicação de Maicon no Facebook em que ele diz estar procurando emprego. Ele convidou o amigo para trabalhar em sua empresa.
Em janeiro, Maicon começou a trabalhar na Tonho Gás. Certo dia, o comerciante precisou viajar a Araucária (PR) para buscar um funcionário, convidando o recém-contratado colega para ir junto.
Em meio à viagem, Maicon tinha um cacoete semelhante ao de um tio de Antonio: pegava no sono sem perceber. Eles chegaram a brincar que poderiam ser parentes distantes.
“Gordo, tu és meu irmão, cara”
Na semana passada, durante a viagem de volta, os dois amigos e Fábio Riffel, o funcionário que estava em Araucária, começaram a conversar sobre o passado.
Antonio “Nunes” não chegou a mencionar que procurava um irmão, nem dar detalhes sobre sua família.
Neste momento, Maicon comentou que o sobrenome de sua família biológica era “Nunes”.
Assim que ouviu isso, o comerciante olhou para Fábio – que já sabia da história, – e ambos souberam na hora o que isso queria dizer.
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Para completar, Maicon disse que adoção fora intermediada por uma senhora cabeleireira que trabalhava na rodoviária.
“Nesse momento eu olhei pra ele e falei: ‘Gordo, tu és meu irmão, cara’. E ele achou que eu estava louco. Eu perguntei: ‘O nome do teu pai não era João? Tu não conheceu a cabeleireira no Cedup no dia das eleições?’ E a história fechou”, relembra Antonio.
Só depois que o irmão contou todos os detalhes, Maicon caiu na real. Na verdade, ele ainda levou mais um dia para compreender o que estava acontecendo.
“Eu sabia que tinha dois irmãos e uma mãe, mas nunca fui atrás. Descobrir que meu chefe é meu irmão foi um susto muito grande”, conta.
Tonho ligou imediatamente para Jefferson para contar a novidade: a família estava completa, finalmente!
Para o fim de semana, marcaram o primeiro churrasco de comemoração. “Agora é uma vida nova. Estamos nos adaptando, pois ainda é tudo muito recente. A vida é uma caixinha de surpresas”, celebra Antonio.