Dos 4,1 milhões de candidatos que fizeram o Enem em todo o Brasil, apenas 55 conseguiram ‘gabaritar’ na avaliação escrita.
Um deles foi o estudante Lucas Felpi, de 17 anos, aluno do colégio particular Rio Branco, em São Paulo. Ele tirou nota mil na redação.
Para conseguir o resultado, Lucas conta que escreveu uma redação por semana durante o ano letivo de 2018. O cronograma do colégio onde estuda exige que todos os alunos entreguem um texto por semana.
A cada bimestre, o estudante pode “tirar uma semana de folga” e não entregar a redação. “Mas eu não fiz isso. Eu escrevi e entreguei todas”, relata.
Ele garante que isso fez a diferença na hora da prova. “Oferece mais preparo, mais argumentação, mais aprimoramento de texto e assim por diante”, acrescentou.
O tema da redação neste ano foi a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet, e pegou o estudante de surpresa.
Lucas relembra que escreveu sobre como os algoritmos restringem as informações as quais as pessoas recebem na internet. Em seguida, o aluno apontou episódios da série da Netflix, Black Mirror, e passagens do livro de George Orwell, 1984.
Durante a conclusão da redação, Lucas apontou como proposta de intervenção campanha de conscientização e também a divulgação de como funciona o algoritmo. “É necessário que a sociedade saiba sobre o que acontece por trás das máquinas”, alerta.
O estudante quer cursar Ciência da Computação e vai jogar a nota na USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Gabriela, nota mil
A estudante Gabriela Correa de Araújo, de 21 anos também tirou nota mil na redação do Enem e conta que conseguiu pelo mesmo motivo que Lucas: treinamento.
“Eu escrevia todos os dias, isso me ajudou muito porque eu aprendi a colocar no papel o que está na minha cabeça. Se eu pudesse dar uma dica é que você escreva algo todos os dias, nem que seja só um parágrafo. Independentemente do tema que for. Saber escrever e estar acostumado a escrever já te coloca muito à frente dos concorrentes”, diz,
Moradora da cidade de Toledo, no Paraná, Gabriela passou o ano estudando por conta própria. Ela quer fazer medicina.
Antes da decisão de estudar sozinha ela estudou em escolas particulares e passou um ano em colégio preparatório para vestibulares.
O tema da redação não assustou a aluna.
“Era um tema que eu estava batendo na tecla faz tempo, pensando muito. Juntei um pouco sobre a questão dos dados e ditadura. Falei que estamos vivendo em uma ditadura dos dados e não estamos percebendo. Já tinha estudado muito sobre isso, era algo que estava acontecendo e sendo discutido”, lembra.
No dia da prova, Gabriela escreveu três versões do texto durante as 5h30 que tinha para realizar a redação e 90 questões de múltipla escolha de Linguagens e Ciências Humanas.
O segredo para obter um bom desempenho no exame, segundo ela, foi a prática da escrita e da leitura durante os dias de estudo em casa.
Gabriela aguarda, agora, o início das inscrições para o Sisu 2019, na próxima terça-feira, dia 22. Com um desempenho que ela considera “razoável” nas outras provas e uma nota mil na redação, ela espera que, neste ano, consiga realizar o sonho de conseguir uma vaga em Medicina.
“Tive muito apoio dos outros, é mérito meu e de todas as pessoas ao meu redor. Sou exceção dentro da comunidade negra e isso é triste. O que eu tive não foi apenas esforço e boa vontade, o que eu tive foram boas oportunidades”, conclui.