“Não vou morar em uma casa, mas em um palácio”, comemora a ex-moradora de rua Tereza Cristina Araújo. Ela conta nos dedos os dias para se mudar para sua nova casa, com o marido e as duas filhas, em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Cris, como é mais conhecida, é do Rio Grande do Norte. Atravessou o país em busca de emprego, em 2007. Ela foi demitida do supermercado onde trabalhava e, quando o então marido saiu de casa, viu-se impossibilitada de pagar o aluguel. Acabou indo morar embaixo do Viaduto da Conceição.
Sete anos depois, mudou-se com seu atual companheiro, Rafael Rodrigues, e sua filha mais velha, Ana Paula, 16 anos, para um casebre de madeira, num pequeno terreno que Rafael herdou da família, no bairro Parque Índio Jari.
O barraco de lona e madeira, rodeado de lixo e entulho, não tinha luz nem água, mas o que Cris mais sentia falta era de um banheiro nos fundos. A história de vida sofrida e o sonho de Cris chegaram aos ouvidos do pintor de parede e ativista social Claudio Roberto da Costa, através da sua namorada.
O morador do bairro Safira, na periferia de Porto Alegre, é conhecido por realizar ações sociais, como a arrecadação de material escolar para crianças carentes, todo início de ano, e a colorização das ruas e casas do bairro, elevando a autoestima dos moradores (leia aqui).
“Eu fui fazer a visita para ver a situação porque eles não tinham banheiro e faziam as necessidades em baldes e bacias e jogavam nos fundos. Era uma coisa muito primitiva, o mínimo que a pessoa tem que ter é um chuveiro, água encanada e um vaso. Eu puxei um ao vivo no meu Facebook falando sobre a construção do banheiro e pensei ‘quem constrói um banheiro constrói uma casa’. E aí o pessoal começou a dizer que faria doações”, contou Claudio ao Razões para Acreditar.
Claudio divulgou a situação da família no Facebook e logo começaram a chegar as doações (tijolos, telhas, argamassa etc.) de vizinhos e até de madeireiras do bairro para a construção da nova casa. Atualmente, a família mora na residência de um vizinho, o pedreiro André Ricardo Reis, quem comanda a obra, todos os dias da semana, com o filho, o irmão e o genro.
“Eram tantas promessas que eu estava desacreditada. Quando o Claudio falou que ia fazer uma filmagem, eu fiquei bem de canto [sem acreditar]. Três dias depois, ele chegou com um caminhão na minha casa. Ali, aquela esperança começou a crescer dentro de mim. Eu voltei a acreditar que ainda existem pessoas boas no mundo”, afirma Cris.
Dois meses depois, a casa de dois quartos, uma sala, cozinha e o tão sonhado banheiro está quase pronta. Eles devem se mudar na próxima semana, já com uma bebezinha de 4 meses, filha da irmã de Rafael, de quem o casal tem a guarda: “Estamos muito ansiosos, na expectativa da casa ficar pronta”.
Além da casa, a família ganhou móveis, como um jogo de sofás, raque e outras coisas que estão para chegar. Cris ainda ganhou um tratamento dentário e um ‘Dia de Princesa’.
São tantas as razões para acreditar que Cris deseja fazer o mesmo, criando seu laço na corrente do bem. “Hoje, eu acredito numa vida nova, que existem pessoas de coração bom, que pensam no bem do próximo. Assim como vou pensar no meu vizinho da direita, no meu vizinho da esquerda”, finaliza Cris emocionada.