Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu.”
(Livro Iracema – José de Alencar)
"(...)
E se não fosse uma raiz de mucunã arrancada aqui e além, ou alguma
batata-branca que a seca ensina a comer, teriam ficado todos pelo caminho,
nessas estradas de barro ruivo, semeado de pedras, por onde eles trotavam
trôpegos se arrastando e gemendo”.
( Livro O Quinze – Rachel de Queiroz)
O que as citações dos escritores cearenses José de Alencar e Rachel de Queiroz, das obras Iracema e O Quinze, respectivamente, querem dizer?
Elas não querem apenas, elas dizem, ou melhor, elas disseram.
A sede do distrito Barreira dos Vianas fica à margem leste do rio Jaguaribe e destaca-se economicamente pela sua agricultura, cajucultura, apicultura e artesanato. Possui cemitério, igreja católica, templos evangélicos, um povo acolhedor e uma ESCOLA VIVA, a Francisco Nogueira Cavalcante. Na noite de ontem (21/09) com sua turma de EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS do Segmento 2 deu uma verdadeira aula de literatura cearense.
O professor João Paulo acatando uma indicação da coordenadora da Célula de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Aracati, professora Jane Meire que por sua vez acolheu a um desejo da professora Lucilene Alves, enquanto secretária de educação promoveu um belo momento literário, onde os jovens e adultos através da leitura das obras e da percepção advinda dos filmes temáticos assistidos fizeram um verdadeiro mergulho na literatura cearense.
Logo ao chegar pela rua recentemente pavimentada da sede do distrito, era visível que tinha um clima diferente no ar, muitos moradores estavam na rua principal, em especial, a frente da Escola.
Bastou adentrar alguns passos para perceber a maravilha que ali estava presente, de um lado, uma verdadeira tribo indígena, índios e índias extremamente caracterizadas, um José de Alencar, caracterizado de uma forma impecável, ocas, redes, flechas e rostos belos de nativos.
No lado oposto era a imagem nua e crua das dificuldades, uma Rachel de Queiroz linda a contar a saga dos que sofreram os horrores da seca do quinze.
Retirantes, cabaças, quartinhas, cercas e cercados, trouxas de roupas sobre a cabeça e muito sofrimento caracterizavam os retirantes.
Ao centro um Trono Literário, onde os alunos da Educação de Jovens e Adultos eram reis e rainhas, com capa e coroa, ali, cada um lia e lia com desenvoltura fragmentos das obras trabalhadas no projeto que neste instante vivia sua culminância.
A comunidade assistia maravilhada a sua gente, seu povo, agora como atores deste belo e plural espetáculo literário.
Netos portando celulares de última geração filmavam seus avós, cujos, não tiveram a mesma felicidade dos netos em frequentar a Escola e que agora de uma forma linda vivenciavam a alegria de ler e escrever, na alegria de contar e dramatizar as histórias eles já estão pós-graduados.
Parabéns a Escola Francisco Nogueira Cavalcante!
Parabéns a comunidade de Barreiras dos Vianas!
Parabéns a todos os envolvidos neste lindo projeto!
Ontem cada um que ali estava sentiu a alegria de ver na prática o sonho de todos os educadores, a educação contextualizada onde o aluno fora o real protagonista, e mais ainda pode ver e sentir Escola e Comunidade irmanadas e felizes.
Como bem dizia o poeta: “Sonhos, acreditem neles.” A Escola Francisco Nogueira Cavalcante sonhou e foi linda a realidade vivida.
Que mais Escolas possam vivenciar esta experiência e que mais jovens e adultos possam exercer seus talentos em prol da aprendizagem significativa.