Poucas coisas são tão ruins quanto o sentimento de isolamento, de não se sentir parte de um grupo, seja pelo motivo que for. Quem é surdo ou tem perda auditiva sente falta de ouvintes com quem possa se comunicar através da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Na escola, esse isolamento é ainda maior. Isso porque, em praticamente todas escolas, os estudantes ouvintes são a maioria, como na Escola Municipal Inácio de Loyola, na cidade de Imperatriz, no Maranhão.
O estudante Jeferson Franco está no 6º ano e, ao contrário dos colegas de turma, é surdo. O garoto sentia muita dificuldade nas aulas e, mais ainda, para se comunicar com os colegas. Quando alguém se sente assim, é quase certo que a pessoa se isola dos demais.
"A gente percebeu, na hora do intervalo, o isolamento do Jeferson. Todas as crianças brincavam, e ele ficava no canto. Nem pra receber o lanche ele vinha", disse a pedagoga Eliane Brandão, em entrevista para um jornal local.
Diante daquela situação, a professora Maria Célia, que também tem perda auditiva, decidiu agir. Ela não queria que Jeferson passasse por tudo o que ela viveu quando era estudante. A professora criou um projeto que incluiu os colegas do estudante, chamado Aquarela em Libras.
"Ele não interagia com os outros alunos. Então, tive a ideia de criar o projeto para ajudá-lo. É gratificante", explica a professora.
O projeto ganhou esse nome porque a primeira música usada para ensinar Libras aos colegas de Jeferson foi "Aquarela", de Toquinho. As aulas têm a colaboração do intérprete Paulo Roque.
"É uma forma de clarear o mundo do Jeferson. Antes, ele tinha a barreira da comunicação. E, hoje, é um mundo novo para ele, porque tem liberdade para se expressar", explica o intérprete.
Desde então, a interação de Jeferson com os colegas melhorou bastante. Quem garante isso, em Libras, é o próprio estudante. "No começo, eu era muito quieto. Até agora, não tive mais problemas de comunicação. Está muito melhor."
Os colegas também perceberam o avanço na comunicação do garoto e querem levar o aprendizado para fora dos muros da escola. "Eu acho muito bom, porque é um sonho aprender Libras. Antes, eu não conseguia falar com o Jeferson. Agora, eu consigo falar muito bem com ele", afirma uma colega de Jeferson.