Ao longo da minha vida aprendi a admirar o Dr. Erasmo, assim o meu pai, Seu Beni Garcia, agricultor de quase noventa anos bem vividos o chamava.
Era comum ver o quanto os homens acostumados a dura lida com a mãe Terra tinham de admiração, respeito e carinho por esse amado filho do sertão.
Ainda que apaixonado pelas coisas do campo, pela mãe natureza, pelos aboios, pássaros, vida de curral, menino tangendo carneiros como diz a bela canção, ele ousou gostar das coisas do mar, poucos conheciam como ele os mares e as marés.
Ele mesmo se dizia ser "um construtor de portos", foi o engenheiro responsável pela construção do Porto do Pecém e presidiu por oito anos a Ceará Portos.
Na sua Casa Mãe de MUTUCA era o coração aberto a todos que ali buscavam a conversa franca, o sorriso sincero, o abraço afetuoso e honesto.
Ele mesmo com nome de doutor soube guardar em seu coração a delicadeza do menino que ainda criança veio passar férias na MUTUCA, seus pais Beatriz Pitombeiras e Manuel Silva moravam nas PEDRAS.
E ali, a senhora Maria Silva e seu amado esposo Antônio Silva Sobrinho da Fazenda MUTUCA o acolhe como filho e naquele pedaço de chão entre FORQUILHA e AROEIRAS ele faz seu ponto de partida para todos os voos. Antônio Silva Sobrinho é o pai que o faz doutor, o Dr. Erasmo, tão querido pelo povo do nosso sertão.
Com o passar do tempo a Casa Mãe que o acompanhou na infância foi por ele totalmente restaurada, para assim manter acesa a memória dos seus antepassados.
Homem dado às histórias que chegavam a seus ouvidos, escreveu em um livro a verdadeira SAGA da pega do Boi Saia-Branca, um boi bravio que atemoriza aos vaqueiros da região, de propriedade do seu tio amado, o Senhor Chiquinho Silva.
Na manhã de hoje ele encerra a sua jornada terrena, como bem disse o Mestre Ariano no seu Auto da Compadecida: "Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre."
E lá se vai o amigo de todos os homens do campo...
E lá retorna o respeitado professor universitário...
E assim volta para casa o homem tão do mar, capitão do mar...
Volta a Casa Paterna para ser vaqueiro no céu.