"Eu sei que tem pessoas que dizem que essas coisas não acontecem, e que isso serão apenas histórias um dia. Mas agora nós estamos vivos. E nesse momento, eu juro. Nós somos infinitos".
(As Vantagens de Ser Invisível)
Eu sei. Você sabe. No fundo, bem lá no fundo, a gente sempre soube. Algumas coisas, por mais simples e pequenas que pareçam, precisam de tempo para ser entendidas, digeridas, apreendidas. E aceitas. Sobretudo, aceitas. Acontece muito isso. Você encontra aquelas pessoas todos os dias e, de repente, olha para o rosto de alguém e se dá conta de que alguma coisa mudou. Você olha no espelho e, por um momento, não se reconhece mais. Aquele grande amigo de infância foi embora sem que você tivesse se dado conta. Pessoas com as quais você dividiu uma vida inteira, no curso do tempo, tornaram-se completas desconhecidas. E te mostraram que uma vida inteira pode ser muito pouco quando se tem pela frente toda uma vida. Quando foi que se perderam assim? Quando foi que você se perdeu? Eu sei. Você sabe. Talvez você tenha mesmo a sensação de que tudo esteja diferente, de que as pessoas mudaram, as circunstâncias, os amigos, as estações, os passeios, os assuntos e até mesmo alguns planos e sonhos. E então você se atenta para uma verdade simples, dessas que ficam escancaradas bem na nossa frente, mas que, por nos importarmos demais com tudo o que é externo, nem sempre conseguimos enxergar: não foi o mundo que mudou. Quem mudou foi você.
Será que houve momento exato? Será que infinitos têm pontos finais? Eu já achei que era pra sempre um montão de coisas, até descobrir que é na eternidade do momento presente que elas têm que viver. Ninguém sabe ao certo o que nos espera lá na frente. Ninguém sabe ao certo se o lá na frente realmente existirá um dia, por mais planos e sonhos e metas que a gente trace daqui e dali. O futuro é uma incógnita, um ponto de interrogação, e por mais previsível que ele possa parecer às vezes, existe uma infinidade de coisas que não estão sob o nosso controle.
Deixar de querer controlar o mundo. De todas as lições que venho aprendendo ao longo dos anos, talvez seja esta a que mais tenha me empoderado diante da vida: algumas coisas dependem da gente, outras, não. A vida é o que se faz da vida. O mundo é o que se enxerga do mundo, de modo que ninguém tem o poder de controlar ninguém. O caminho de cada um é e sempre será o caminho de cada um. Você pode caminhar comigo. Eu posso caminhar com você. Mas, por você, eu não posso. E você também não pode por mim. Por melhor que seja a nossa intenção, por mais que a gente se esforce, se cobre, se entregue, se jogue e até se martirize, a gente não tem o poder de mudar o que não quer ser mudado, nem de ajudar o que não quer ser ajudado, nem de prender aquele que não quer mais ficar.
Deixar ir. Porque tudo que se revela no amor só pode existir em liberdade. Pessoas têm tempos diferentes. Acontecimentos têm tempos diferentes. Não adianta sofrer por algo que não depende de você. Não adianta perder a serenidade e o equilíbrio por algo que não quer ser diferente do que é.
Tem gente que era o nosso infinito. Consegue entender o que eu digo? Você respirava aquela pessoa. E condicionava os seus próximos passos aos passos dela, como se só fosse possível existir assim, como se tudo o que fosse realmente significativo dependesse disso, inclusive a existência de um chão no qual pisar. Até que um dia, sabe-se lá como e por que, o infinito acaba, a vida te tira o chão. E, surpreendentemente, quando tudo parecia ruir, você descobre aí dentro uma força capaz de te impulsionar. Você perde o chão, mas ganha asas. E começa a respirar sozinho.
Às vezes, nem sempre por uma escolha consciente, acontece de a gente deixar de ser o personagem da história de alguém para virar o protagonista da nossa. E é nesse momento, quando nos empoderemos e nos assumimos cocriadores da nossa própria realidade, que descobrimos o segredo que a bem da verdade já não é segredo nenhum. A chave da nossa felicidade não pode estar em outras mãos que não sejam as nossas próprias.
Coisas ruins vão acontecer. Como eu sempre digo, às vezes você vai mesmo ter que catar os caquinhos do chão e tentar refazer-se com o que restou de tudo isso. Talvez seja mesmo necessário perder e sofrer e cair e perder novamente e sofrer novamente e cair novamente e pensar em desistir várias e várias vezes antes de levantar e seguir em frente, apesar de todos os pesares.
Talvez, bem talvez, seja mesmo preciso perder o chão pra que a gente descubra o quanto é infinitamente capaz de voar.
Ser infinito. E então, um dia, num daqueles dias que valem por toda uma vida, a gente desperta para aquela verdade há muito escancarada dentro de nós: infinito não é o que não tem fim, mas, sim, o que sempre representou um novo começo.
É na eternidade do momento presente que tudo tem que viver. Inclusive, os nossos infinitos. E os nossos recomeços também.