O aposentado Amaury Ângelo Escarati quase foi preso injustamente. No dia 6 de abril, um oficial de Justiça bateu em sua porta, em Juiz de Fora, em Minas Gerais e lhe acusou de ter furtado uma bicicleta no município de José Bonifácio, em São Paulo. Amaury contou que nunca nem tinha ouvido falar nessa cidade. Seu nome e dados estavam corretos na citação, mas ele era inocente.
O aposentado acredita que o mal-entendido começou por conta de um furto do qual ele foi vítima em 2005, quando foram levados, entre outras coisas, seus documentos pessoais.
Segundo o inquérito policial, o falso Amaury furtou a bicicleta de um garoto, na época com 12 anos, na companhia de um comparsa no dia 12 de agosto de 2014. A vítima foi surpreendida pelos bandidos, que pararam o carro em que estavam e roubaram a bicicleta. O adolescente havia acabado de ganhar a bicicleta do pai. Eles fugiram e não foram encontrados.
O garoto então foi à delegacia da cidade com o pai e registrou a ocorrência.O caso seguiu para investigação da Polícia Civil, que refez os passos da dupla e descobriu que os autores haviam estado em um bar de uma cidade vizinha horas antes de cometerem o crime.
A dupla teria bebido neste estabelecimento e não tinha dinheiro para pagar a conta. Então, eles deixaram a identidade falsa, com o nome do Amaury de Juiz de Fora no bar como garantia de pagamento. Em seguida, eles roubaram a bicicleta e nunca foram localizados. Com a identidade apreendida, o garoto roubado reconheceu o homem da foto como sendo o autor do crime.
Na cédula falsa - que, inclusive, era um xerox -, além da foto não ser do verdadeiro Amaury, havia vários dados errados, como data de expedição e a assinatura totalmente diferente da original.
Mesmo com a promotoria reconhecendo o erro, o juiz de José Bonifácio marcou uma audiência na qual o Amaury teria que estar presente.
No dia 23 de maio deste ano, ele e os dois advogados seguiram para José Bonifácio, uma viagem de carro cansativa, que durou 12 horas. No tribunal, o verdadeiro e inocente Amaury de Juiz de Fora ficou frente a frente com a vítima, agora com 14 anos, para que ela descartasse ou não sua participação no crime.
"Este foi o momento mais humilhante para mim. Só via em filmes esta cena de reconhecimento de criminoso, foi horrível estar naquela situação. Na mesma hora que me viu, o garoto disse que não era eu o autor", comenta o aposentado.
No final da audiência, o juiz confirmou o erro e absolveu o aposentado.
"A verdade é que saímos da audiência sem saber se a vítima e seu pai tinham de fato entendido o que havia ocorrido ali, se compreenderam o erro no processo. Percebemos que a motivação para o menino estar ali era ter sua bicicleta de volta, o que não aconteceu, já que o verdadeiro culpado está livre e inclusive pode continuar a estar usando a identidade de Amaury", ressalta Thiago Almeida, um dos advogados de Amaury.
Mas você pensa que Amaury se conformou com a situação?
Ele poderia ter ficado bravo com o transtorno que a circunstância causou.
Mas não. No carro, ele comentou com seu advogado que que queria ajudar aquele menino e dar a ele outra bicicleta. Seus advogados fizeram contato com o pai da vítima, que disse que teria que trabalhar muito para dar outra bicicleta ao filho.
O aposentado então comprou a bicicleta pela internet e mandou entregar na casa deles.
A bike chegou na casa da família de José Bonifácio no último dia 26.
"No meio disso tudo, mesmo tendo passado por todo este desgaste, vi que ainda tem gente que está em uma situação muito pior que eu, era o caso desta família", explica Amaury.