A missão confiada por Deus a Dom Bosco abraçava o mundo inteiro. Em um de seus célebres sonhos, ele viu a dureza da tarefa e a localização do espaço onde seus salesianos deveriam trabalhar: "com o suor e sangue seus filhos irão levar os jovens ao Senhor da messe". "Entre os paralelos 15 e 20, surgirá uma terra prometida". Suor, sangue, martírio e terra prometida… Muitas outras coisas ele sonhou e, nos sonhos, ele via a intervenção de Deus, que lhe revelava a sua vontade e o futuro missionário de sua Congregação.
Em 1875, Dom Bosco envia o primeiro grupo de salesianos à América do Sul, na Argentina. "A primeira terra americana em que os salesianos pousaram o pé foi o Brasil. Isto aconteceu em 1875, quando a assim chamada Primeira Expedição Missionária, que Dom Bosco enviou à Argentina, passou pelo Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil" (MARCIGAGLIA, 1955, p.13).
Em 14 de julho de 1883, vieram finalmente os Salesianos para o Brasil e foram recebidos com extraordinária amabilidade pelo Imperador Dom Pedro II que demonstrava o maior interesse pelas obras salesianas. A primeira delas foi a fundação do Colégio Santa Rosa de Niterói. (MARCIGAGLIA, 1955, pp.17-19).
Dois anos após sua instalação no Rio de Janeiro, os missionários fundaram, em 1885, o Liceu Coração de Jesus, na cidade de São Paulo. Em março de 1890 inauguraram o Colégio São Joaquim, em cidade do interior do estado de São Paulo - Lorena. Em 1892, chegaram ao Brasil as irmãs salesianas que se espalharam, gradativamente, por várias regiões.
Com o relato acima da chegada dos Salesianos ao Brasil, vem em minha mente a entrada da Família Salesiana em minha vida.
Antes que viéssemos morar em Aracati, as minhas duas irmãs mais velhas, Rosanilda e Verônica vieram morar no Colégio das Irmãs Salesianas, era um tempo que haviam internatos, e, esta vinda foi a porta de entrada para mim.
Ali a minha memória não esquece, conheci e senti o sabor do primeiro picolé, dado pelas mãos bondosas da Irmã Aurília, era de coco, detalhe tão simples hoje em dia, porém, para um menino de 8 anos que morava em Medeiros era quase o néctar dos deuses.
No ano de 1977 vim morar em Aracati, as minhas irmãs, antes moradoras do Colégio agora iriam morar todas em nossa casa, elas ainda estudavam no Instituto Waldemar Falcão e às vezes me levavam para atividades extra-classes, em uma destas idas conheci a Irmã Petronilla Issoni, uma Filha de Maria Auxiliadora que me convidou para fazer parte de um grupo de "pequenos cientistas", acho ter sido a primeira vez que senti o que era o gostinho do céu.
A vida que dá muitas voltas, também rodou para mim, não sei o motivo, talvez a saída das minhas irmãs do Colégio, só sei que também saí, me ausentei, como o "filho pródigo" andei por mil caminhos, tem um enorme espaço de tempo na minha vida sem a presença das SALESIANAS.
Ano de 1991, eu já casado fazia cinco anos (primeiro casamento) sou chamado para ir rezar O TERÇO na casa do meu saudoso padrinho Celso Ribeiro de Souza, a filha dele, Fatinha, que havia sido minha professora até 1982 me fez o convite e um dia chega com um pedido para que eu fizesse um TEATRO da Parábola "O rico Epulão e o pobre Lázaro" para um momento que ela estava preparando e me diz: "Garcia, chama os meninos do Beni Carvalho." Eu, como nunca ou quase nunca dou não, afirmei que estava certo. Até tentei convidar os antigos colegas que a nove anos passados haviam feito a cena da parábola na Escola, porém, não logrei êxito.
Sempre que encontrava com a antiga professora e ela me perguntava como estava a peça, eu respondia que estava tudo bem. (risos)
Resumo da história, apresentei toda sozinho, fazendo todos os personagens, acho ter sido a maior das loucuras santas já feita. Teve aplausos, não sei se por piedade de mim ou por terem gostado.
Terminado este Terço, a mesma professora Fatinha diz: "Garcia, todas as segundas-feiras vamos rezar na Igreja dos Prazeres, caso você deseje ir, sinta-se convidado."
Na próxima segunda-feira lá estava eu.
Nada poderia ter acontecido de diferente se ali eu não tivesse ouvido um som que iria modificar toda a minha vida.
Já próximo do final do Terço, escuto uma voz que dizia: "Vamos cantar, Auxiliadora, Virgem Formosa."
De onde eu estava não dava para ver de quem era a voz, porém, o som que chegou aos meus ouvidos é o que até hoje mais se pareceu com a voz de um anjo, e era. Era a voz de uma mulher que tem uma gigantesca parcela de responsabilidade na minha formação humana, em especial, no zelo e carinho pelos mais necessitados.
Era a Irmã Maria de Jesus Germano, Filha de Maria Auxiliadora, Salesiana de Dom Bosco, que agora era a nova diretora do Instituto Waldemar Falcão após a morte da Irmã Eneida em um acidente automobilístico quando se deslocava para a sede da diocese em Limoeiro do Norte.
A época eu era bancário, fui trabalhar no outro dia com aquela voz em meus ouvidos, "Vamos cantar, Auxiliadora Virgem Formosa." Inexplicável, era lembrar e os olhos marejavam (iguais estão agora), se existe amor a primeira vista, é certo que também existe amor a primeira audição.
Saí da Agência e fui quase correndo ao Colégio das Irmãs Salesianas, ao chegar na recepção e me identificar, perguntei se aquela irmã que reza o TERÇO na Igreja dos Prazeres estava no Colégio. A pessoa que atenciosamente me acolheu disse que sim, que era a Diretora Irmã Maria de Jesus, eu de imediato perguntei: "Posso falar com ela?" após um interfone que demorou um segundo e para mim parecia a eternidade a pessoa me respondeu que sim, que ela me esperava na diretoria.
Poucos metros me separavam daquela sala, porém, era quase uma maratona. Ao chegar vi pela primeira vez aquele olhar de tanta doçura que me encanta até hoje. Antes que me apresentasse ela me disse: "Vi você no Terço de ontem a noite. Você gostaria de participar de um grupo que estou criando?". Antes que ela terminasse eu já dizia "SIM." Faltou pouco para que eu falasse: "Faça-se em mim segundo a tua vontade."
Muito tempo depois ela me dizia: "Garcia, tu disse que queria participar do grupo sem nem sequer saber que grupo seria." E, eu apenas sorri e disse: "De nada importava, queria era ficar pertinho da senhora."
O grupo era de Estudos Bíblicos, sempre as terças-feiras, a partir de estudos de Carlos Mesters.
Pronto, ali estava consolidada a minha volta ao convívio da Família Salesiana, a partir daquele dia durante o tempo que Irmã Maria de Jesus Germano morou em Aracati, não teve um só dia que não fosse aquela casa maravilhosa.
Eu e muitos vivemos ali, momentos tão felizes, que hoje ao relembrar não dá para segurar uma infinidade de lágrimas, óbvio que não dá para contar aqui, dado ser apenas a tentativa de um texto e não um livro de memórias.
Aos meus inúmeros companheiros de alegrias salesianas, o meu eterno carinho, perdoe-me não citar nomes, são tantos que correria o risco de esquecer alguém, o que seria imperdoável.
Hoje, Irmã Maria de Jesus Germano, mora na Casa Maria Tereza, as vezes, vou visitá-la, ela é portadora de Alzheimer, normal, porém não menos doloroso o esquecimento, ela em pouco tempo pergunta-me muitas vezes o meu nome, eu respondo e ela diz; "Gosto muito de você." A doença a fez esquecer muito das nossas vivências, porém, eu nunca esqueci um pequenino momento sequer do muito que fui feliz ao lado dela e de tantas outras irmãs lindas, naquela Casa de Educação.
Após a saída de Irmã Maria de Jesus Germano de Aracati em Janeiro de 1995, muitas outras irmãs passaram pelo Aracati, para minha alegria, tornei-me amigo de todas, sinto-me parte daquela casa, a atual Irmã Diretora, Irmã Maria José, em nosso primeiro encontro foi de uma delicadeza tão grande e de uma generosidade espetacular em nos deixar realizar um BAZAR BENEFICENTE na Casa de Leitura do Instituto Waldemar Falcão que até hoje sou grato, a ajuda dela nos permitiu a época levar 223 cestas básicas aos nossos carentes.
Enfim, o texto tem de terminar.
Obrigado Dom Bosco por ter mandado ao Brasil os seus salesianos, eles abriram caminho para que as Filhas de Maria Auxiliadora viessem ao Brasil, depois ao Aracati, já são 70 anos da chegada delas na Terra dos Bons Ventos.
Em minha vida, são 43 anos de uma experiência que posso afirmar ser uma bela história que dia após dia contribui para que eu busque sempre ser "um bom cristão e honesto cidadão."
Amei o texto, representa o sentimento de muitos ex alunos salesianos que tiveram a sorte de conviver com mulheres santas e dedicadas a obra de Dom Bosco.