Hoje, 05 de Julho de 2017 chegamos a 35 anos daquele dia trágico, negro, pesado como chumbo.
Vivíamos o jejum de Copas do Mundo deste 1970 no México, quando ainda tínhamos o Rei Pelé, o Furacão da Copa Jairzinho, Rivelino, Carlos Alberto, Gerson, Clodoaldo e tantos outros.
O técnico Telê Santana havia conseguido fazer uma Seleção Brasileira que jogava com arte, que fazia sonhar.
Malgrado as horríveis falhas do goleiro Valdir Peres nos dois primeiros jogos da Copa do Mundo, URSS e ESCÓCIA, o Brasil conseguiu vencer as duas partidas.
Com a Nova Zelândia no último jogo da primeira fase foi um passeio.
A Copa do Mundo era em outros moldes, diferente do atual, o Brasil caiu em uma chave com Argentina e Itália.
Os hermanos logo sentiram a força da Seleção Brasileira que venceu com relativa facilidade por 3 X 1.
A esquadra Azurra tinha feito uma péssima primeira fase empatando seus três jogos com POLÔNIA, PERU e CAMARÕES.
E, a Seleção canarinha precisava apenas empatar o jogo para avançar.
A festa estava feita, raríssimas eram as ruas que não estavam enfeitadas, nunca se os bairros pobres do país com tanta beleza exposta quanto naquele dia.
E, sem maiores delongas, os deuses do futebol não quiseram premiar o FUTEBOL ARTE.
Paulo Rossi, um carrasco italiano até aquele dia não havia feito um GOL na COPA, naquele fatídico dia fez os três que deram a vitória da Itália sobre o Brasil por 3 x 2.
O nosso estiloso Cerezo, falhou feio.
O juiz não viu o PENALTY de Gentille sobre o Zico, a camisa ficara rasgada.
A cabeçada do Dr. Sócrates foi defendida sobra a linha por Dino Zoff no apagar das luzes, na última volta do ponteiro.
Era hora de chorar, chorar muito.
Eu assistia na casa de uma vizinha, numa daquelas TVs preto e branco com uma tela colorida na frente, a mim diziam ser para descansar a vista, eu sempre achei que era para nós pobres sentirmos ainda que na fantasia como deveria ser bom ver jogo na casa dos ricos que tinham TVs a cores.
Antes de terminar o jogo já chorava muito, vim e entrei pela minha casa simples e fui para o fundo do quintal, ali havia uns paus que tinham sobrado da construção da cerca que servia como uma espécie de muro, sobre eles, chorei, chorei e chorei...
Madrinha Chiquinha a madrasta da mamãe já bem idosa, doentinha, estava em nossa casa, ela não compreendia o tamanho da dor, foi lá e disse "chora não Chiquinzinho, amanhã o Brasil ganha." Eu quis ser grosseiro, juro que quis, porém, entendia o que ela não entendia e apenas chorei com mais força.
Ela tinha razão, não foi amanhã no outro dia, foi em 1994, 12 anos depois, mais tarde viemos a ganhar outra vez em 2002, 20 anos depois, porém, em nenhuma dessas vitórias tivemos o menor vestígio de uma Seleção Brasileira que nos fazia sonhar e encantava os nossos dias sofridos, porém, felizes.
Enfim, Madrinha Chiquinha agora está encantada.
O futebol arte também.