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Projeto transforma geladeiras em bibliotecas para incentivar a leitura

Publicada em 24/06/17 as 11:26h por Diário Gaucho - Aline Custódio - 350 visualizações

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 (Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS)

Dispostos dentro de geladeiras que seriam entregues aos ferros-velhos, livros estão matando a fome de leitura dos moradores de São Jerônimo e Charqueadas, na Região Carbonífera. Eles fazem parte do projeto Geladeiroteca, idealizado há dois anos pelo economista, professor universitário e atual secretário da Fazenda de São Jerônimo, Rudney Aminadab Santos, 39 anos. 

Instaladas em seis pontos públicos das duas cidades, como rodoviárias e hospital, as geladeiras de diferentes tamanhos se tornaram ponto de referência para quem deseja ler gratuitamente um livro, um gibi ou uma revista.
— O projeto surgiu depois de me deparar com uma geladeira no meio da rodoviária de São Paulo. Na mesma hora, pensei em fazer o mesmo na minha cidade para as pessoas aprimorarem a leitura — justifica Rudney.

Defensor da educação como caminho para a vida, o professor lançou a ideia entre amigos e imediatamente recebeu a primeira contribuição: a sogra doou uma geladeira. Um grupo de grafiteiros da cidade deu um novo colorido ao eletrodoméstico antes de ele se tornar uma minibiblioteca no salão da emergência do Hospital de Caridade São Jerônimo. Até forno de pão foi doado e se tornou uma fornoteca na rodoviária da cidade.

Para rechear de obras os eletrodomésticos transformados, Rudney contou com a parceria do Banco de Livros — criado pela Fundação Gaúcha de Bancos Sociais — e as doações de moradores das duas cidades. A meta para 2017 é obter pelo menos outras 15 geladeiras sem uso para serem instaladas nas escolas municipais que aguardam pelo projeto — duas já têm geladeiroteca.
— Neste período, compartilhamos mais de sete mil livros. Mas a nossa ideia é triplicar este número para que mais pessoas tenham acesso à leitura — afirma o professor.

Leitores são convidados a conhecerem o projeto Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

João Guimarães Rosa, Machado de Assis, Zuenir Ventura, Erico Verissimo e Mario Quintana, escritores renomados da literatura brasileira, destacam-se entre os romances, os livros religiosos e os de auto-ajuda que são procurados por quem se atreve a abrir a porta de uma das geladeiras do projeto. No início, Rudney recorda que as pessoas levavam os livros e não os devolviam.
— Fiz campanha nas rádios e nas redes sociais para solicitar que devolvessem as obras ou contribuíssem com novas. Com o tempo, a população entendeu a proposta e se empoderou do projeto. Hoje, faço apenas uma revisão semanal em cada geladeiroteca para repor livros e organizar as estantes. Me sinto feliz por contribuir para a minha cidade — comenta.

Uma das geladeiras está no hospital de São JerônimoFoto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

Não é necessário se inscrever para retirar o livro. O professor apenas solicita que não sejam deixados livros didáticos no local, pois não há procura. Rudney percebeu, inclusive, o tipo de leitor de cada espaço: os livros literários vão direto para as geladeiras das rodoviárias das duas cidades, pois é o leitor que precisa de mais tempo para apreciar a obra, as revistas vão para o posto do INSS, onde o leitor quer apenas passar o tempo até ser atendido, já os de auto-ajuda e os religiosos são deixados no hospital, porque Rudney acredita que quem está naquele ambiente precisa de uma boa mensagem, nas escolas ficam os literários e os gibis. 

Aline frequenta a geladeiroteca de CharqueadasFoto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

Na rodoviária de Charqueadas, onde o pico de leitores é pela manhã, a estudante de psicologia Aline Lima, 26 anos, é uma frequente usuária da geladeiroteca. De livro a jornais, Aline sempre espera o ônibus na companhia de uma leitura. 
— Às vezes, fico até uma hora esperando o ônibus. Pelo menos, tenho com o que me distrair. Minha única sugestão é que a porta da geladeira fique sempre aberta. Algumas pessoas não conhecem a proposta e não sabem se podem abrí-la. Já vi jovens pegando livros e outros deixando livros no local _ conta. 

Aline espera o ônibus lendo um livro da bibliotecaFoto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

Leitores como Aline se tornaram comuns nos pontos escolhidos pelo professor, que comemora cada novo livro doado ou deixado nos pontos de compartilhamento.
— A cada geladeiroteca instalada na cidade são dois ou três policiais que eu não vou precisar contratar porque pela educação eu humanizo as pessoas e transformo estas pessoas — acredita, confiante, o professor.

Rudney sempre espera novas doações de livrosFoto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

PARA AJUDAR
* O projeto Geladeiroteca precisa de doações de geladeiras, de livros, de revistas e gibis.
* Contatos pelo fone/whatsapp (51) 99928-4520.




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