A forte ligação dos cães com o ser humano desperta muita curiosidade - pelo menos da nossa parte, porque da parte deles essa relação já foi naturalizada há muito tempo.
Alemão e Neguinha não deixa dúvidas sobre isso. Há mais de 10 anos, a dupla de cães acompanha o caminhão da coleta de lixo no bairro Santa Inês I, na Zona Leste de São Paulo. Todas às terças, quintas e sábados, entre 7h e 13h.
"O pessoal brinca que eles têm até o crachá da empresa. O Alemão é o mais antigo. Creio que tem uns dez anos que ele percorre o trecho. Eu o conheço desde 2010", disse o motorista Carlos Alberto de Oliveira, em entrevista para o site Aquarius Life.
"Antes era o Alemão e sua mãe, que já morreu. Agora é o casal. Não sei como, mas eles sabem o dia e horário que o caminhão chega e parte do bairro."
Na pausa para o lanche e o almoço, os coletores dividem os alimentos com os cães. "Até remédio a gente já passou no Alemão para cuidar dos ferimentos. Ele fica mais tempo com a gente do que na casa dele. Contam que no domingo ele passa o dia todo dormindo. Deve ser para descansar", explicou Carlos.
A relação dos coletores com os animais é mesmo surpreendente. Isso porque é comum os cães avançarem nos coletores, como se eles fossem uma ameaça à segurança de suas casas. "Eles protegem a gente dos outros cachorros. Mas quando algum mais bravo se aproxima é a gente que o defende, pois ele já está idoso", lembra o coletor Flávio José dos Santos.
Os moradores do bairro também já se acostumaram e até dão água para os cães se hidratarem. "Se não for gelada, o Alemão não toma. Teve gente que até já pagou marmitex para eles", lembra Flávio. Em uma bicicletaria do bairro, Alemão e Neguinha ganham água e bolo.
"Chamo os coletores para tomar um café comigo e os cães são bem-vindos", disse o dono da bicicletaria, Ilmar Nogueira de Oliveira. "Vários moradores aqui fazem estes mimos para os coletores. Acho que temos que fazer isto por eles."
De baixo de chuva ou de sol forte, os cães não perdem o caminhão de vista. "Eles são guerreiros. O Alemão já correu até com uma pata machucada", contou Flávio. "Quando eles chegam atrasados eu fico preocupado, pois o Alemão já está velhinho."
Carlos lembra que uma vez errou a ordem das ruas e que só se deu conta porque Alemão começou a latir e apontar a direção correta. "Eu percebia que estava errado. Na mudança da empresa de coleta ele também estranhou a alteração do uniforme. Depois que sentiu o cheiro, percebeu que éramos nós."