A
amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme
- o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o
ombro para chorar, é poder criticar (com carinho, por favor), é poder
apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão,
é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela para quem se pode ligar quando a
gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga
vai, e pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de "minha gatona" mesmo que a gente
esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e
não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de
amigos: "Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta". O marido morreu, os
filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se
o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca
tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a
vida afetiva. E que amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são
cultivados com… amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem
aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam
nem luz, nem espaço, nem afeto.