A história de uma ex-diarista comove pelo altruísmo, pela coragem de enfrentar uma vida dura e ainda ajudar mais de 200 crianças necessitadas de uma favela
Marlene Garcia Praxedes, de 59 anos, alimenta crianças carentes todos os dias em uma favela, na Vila Campo Grande, na zona sul de São Paulo.
Ela foi diarista durante 20 anos. No final da década de 1990 trabalhava em uma padaria.
Um dia, em 1995, ela levou os pães que sobraram paro Morro da Macumba e foi então que a vida lhe mostrou que tem gente que precisa muito mais. Uma fila enorme se formou.
Marlene começou uma força-tarefa e pediu alimentos para conhecidos - como as ex-patroas e comerciantes - e quando percebeu já eram centenas de crianças sendo alimentadas.
Mesmo com as dificuldades do final dos anos 1990 e o guerra do tráfico na favela ela continuou firme na luta.
Projeto Reviver
Marlene e filha Vanessa, que a ajuda, encontraram, em 2005, um galpão na topo da favela, mas o local era usado como ponto de tráfico e cativeiro de sequestros.
"Falamos com os traficantes, mostramos o nosso projeto", lembra Vanessa. Eles toparam sair e o dono oficial do espaço também cedeu à vontade de Marlene.
No projeto, empresários pagam contas, doam comida, amigos ajudam a limpar e a Pastoral da Criança doa metade dos alimentos.
As crianças, que passam quatro horas do dia no galpão, têm reforço em matemática e português e aulas de inglês e francês (dada por voluntários).
Há 12 anos, o projeto virou oficialmente a ONG Reviver, que não recebe um centavo de nenhum governo, porque "políticos não entram".
Marlene usa a religião pra explicar o significado da ONG: "Reviver é como se você estivesse num vale de ossos secos. Você faz força para levantar. Então você levanta. Revive e vai procurar emprego"
Marlene é um um exemplo de compaixão e solidariedade.
"Tenho muito dó de criança. Não sei por que, começou do nada. Vejo uma com fome, pobrezinha, quero trazer para cá", diz Marlene, hoje "mãe" de 230 crianças carentes que são alimentadas, bem cuidadas e instruídas.
"Aqui dentro as crianças voltam a sonhar e o sonho leva elas (sic) pra faculdade. É uma missão", afirmou Marlene em entrevista ao SBT.
A filha Vanessa se emociona ao lembrar de como tudo começou: "Um dia eu fui uma criança carente e o trabalho que a gente faz hoje é o que a gente gostaria que fizessem pela gente. "
A boa notícia é que mais de dez anos se passaram, vários já estão na faculdade e hoje voltam para serem voluntários.
Com informações da Folha/Uol. e SBT