Mais uma história arrebatadora de pessoas que não desistem, quando desistir parece ser a "única" opção. A Drª Antonia Marina Faleiros nasceu no interior de Minas Gerais. Ao completar 21 anos, ela foi morar na capital Belo Horizonte. Lá, trabalhou por um bom tempo como empregada doméstica.
Foi nada fácil superar as adversidades que toda pessoa vinda do interior encontra na cidade grande:
"Nos primeiros dias tive que ficar na casa de parentes, fingindo que estava de passeio. Fiquei um período, mas chegou um momento que ficou insustentável, não dava para ficar de favor. Tive que me arrumar. Arrumei um emprego de empregada doméstica, mas a patroa não gostava que a funcionária dormisse na casa dela, porque ela achava que tirava a liberdade dos donos da casa. Para não ser obrigada a retornar para o interior, para a roça, e ter que abrir mão do meu sonho de fazer um curso superior e trilhar um caminho diferente daqueles que moravam na minha terra, eu mentia para minha mãe que dormia na casa da patroa e fingia para a patroa que dormia na casa de parentes. Mas na verdade eu não dormia na casa de ninguém porque eu não tinha onde morar. Eu passava a noite sentada fingindo que estava esperando ônibus. Como era um ponto muito movimentado, dava para enganar."
Mas o sofrimento e a dor não foram maiores do que sua vontade de continuar estudando para um dia realizar seu sonho. Ela catava no lixo folhas borradas de um mimeógrafo onde eram feitas as apostilas de um cursinho preparatório. "Eu vi a secretária descartando algumas folhas, que ela passava no mimeógrafo e jogava fora. Peguei e percebi que dava para ler, apesar das folhas borradas. Aquele dia eu catei algumas e a partir daí, eu passei a ir rotineiramente na sede do cursinho. Hoje, relembrando essa história, eu desconfio que aquela secretária, cujo nome não sei e nunca mais a vi, percebeu que eu estava pegando aquelas folhas porque as folhas borradas passaram a ficar em uma lixeira seca, sem copinhos de café. E aí eu fui catando aquelas folhas e estudando, o que foi suficiente para eu fazer uma pontuação boa na tal noção de direito. Com isso, eu consegui, junto com as boas notas em matemática e português, o terceiro lugar no concurso", ela conta.
Hoje, com 52 anos, a nova juíza do país, pra quem nunca teve tempo feio, quer fazer diferença na vida de outras pessoas: "A minha história de superação serve para eu ter a certeza de que, com a minha profissão, eu tenho que dar espaço para quem não tem espaço". A ex-empregada doméstica ainda apoia crianças de um projeto social em Lauro de Freitas, na Bahia, onde ocupa o cargo de 1ª juíza da Vara Criminal da cidade.