Muitos devotos que participam da missa no dia 13 de maio, no Bairro de Fátima, em Aracati, e se emocionam com a encenação da aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima ou se encantam com o fervor demonstrado pelos fiéis que lotam a praça, talvez não imaginem a importância do trabalho de evangelização que sustenta esses festejos. Em verdade, essa festa tem em suas raízes as peregrinações da imagem da Virgem às casas durante os trinta e um dias do mês mariano, tradição desenvolvida desde que um aglomerado de residências permitiu que se chamasse de rua.
Talvez tenha sido esta a primeira manifestação como evento social para as famílias recém-instaladas naquele lugar ainda quase inóspito.A devoção à mãe de Jesus foi introduzida e estimulada por padres missionários holandeses, cuja ação evangelizadora foi determinante para o progresso daquela população, inicialmente conhecida pelo baixo desenvolvimento social, relegada ao esquecimento, à margem das políticas públicas.
A "santa" era recebida em um casa diferente todos os dias, trazida em um pequeno cortejo de adultos e crianças.Após as orações e cantos, era costume a anfitriã servir às visitas um lanche, como forma de agradecimento pela participação na "novena". A sala da casa certamente deveria estar preparada tendo ao centro um altar, cuidadosamente preparado para receber a imagem de gesso, que permaneceria como sinal para as orações da família, especialmente para o ofício da Imaculada Conceição, rezado pontualmente ao meio-dia. Encerravam-se os festejos com a coração da imagem no dia 31, com a reunião de todas as famílias visitadas no prédio conhecido como capela que, naquela época, era apenas um salão comunitário.
A construção deste salão ainda no início daquela comunidade, proporcionou momentos importantes não somente de evangelização, mas de socialização, servindo a atividades variadas, inclusive como escola. Somente muito tempo depois, por iniciativa de Padre Mont'Alverne, a capela foi instituída oficialmente com a entronização do Santíssimo Sacramento, fato este que, associado a melhorias na estrutura física otimizou ainda mais o desenvolvimento das atividades pastorais.
A capela constitui-se, portanto como a principal referência do bairro, tendo as comemorações de 13 de maio como o grande momento de integração da comunidade, cuja participação dos moradores é perceptível, seja pintando as paredes, vendendo alimentos, bebidas e camisas para custear as despesas, limpando e ornamentando a rua, ensaiando a aparição, recepcionando os celebrantes, enfim colaborando de variadas formas para que os devotos se sintam convidados a voltar. Parecem todos muito envolvidos no mesmo sentimento de pertença, desejosos de que a comunidade tenha seus valores reconhecidos, de que a presença de fiéis cresça, e com ela, aumente a devoção à Senhora que empresta seu ilustre nome àquele recanto abençoado da Terra dos Bons Ventos.