A história de um ex-menino de rua que morou no aeroporto de Brasilia, foi adotado por uma funcionária do terminal de Brasília, passou em 5 concursos públicos, se formou em direito e hoje trabalha no STF, está emocionando a capital Federal.
Ismael Batista fugiu de casa aos 8 anos, depois que o pai foi morto por traficantes de drogas, por não aceitar gente usando maconha na esquina de onde moravam.
Do barraco em que morava em Samambaia, no Distrito Federal, a criança foi viver no Aeroporto Juscelino Kubitschek.
Por quase um ano ele dormiu em um armário do bagageiro do aeroporto (foto abaixo) que não precisava de chave, ficava aberto.
O menino vivia com o que ganhava de funcionários para se aquecer e alimentar, e dos bicos que fazia empurrando carrinhos de passageiros.
Quando era levado para abrigos de menores, ele fugia e voltava para o aeroporto.
"Deus é o que me move! O que fez mudar minha história foi o amor…", disse em entrevista ao SóNotíciaBoa.
O armário onde dormia no aeroporto - Foto: A Raça de Ismael/Reprodução
Nova família
Ismael ganhou a família que mudaria o rumo de sua vida alguns meses depois, quando foi adotado pela mãe de uma funcionária do aeroporto.
Andréa Carvalho tinha 19 anos e trabalhava em uma locadora de veículos. "A gente fez amizade. Às vezes eu chegava lá e comprava café da manhã para nós dois. Quando não tinha dinheiro, ela comprava café para mim, e almoço também", disse ao G1.
Escondida da mãe, Andréa levava o menino de rua para tomar banho na casa em que viviam, na quadra 406, da Asa Sul.
Logo a mãe conheceu o menino, gostou dele, convidou para morar com a família e pediu a guarda de Ismael para a mãe biológica.
As duas "mães" se conheceram e conversaram sobre a adoção. "Até hoje elas têm uma boa relação. Minha mãe biológica respeita muito a adotiva e tem muita gratidão, mas elas não têm contato, uma não liga para a outra", diz.
Estudo
O menino, que ainda não sabia ler, entrou na escola.
"Fui estudar em uma escola em que eu era o único negro. Tinha perdido um ano e meio de aula e era o mais velho em uma turma de crianças."
"Passei bastante por essa questão do preconceito. Tinham professores que tinham preconceito, amigos. Ele se revela de várias formas, no simples fato de uma criança não querer brincar com você por ser negro. Depois, entre um determinado grupinho, descobri que tinham me dado apelido de 'piva' [pivete], que é moleque de rua."
Mas nada disso o impediu de brilhar. Aos 19 anos, para passar no primeiro concurso público Ismael estudava 12 horas por dia. Aos 22 anos passou no primeiro concurso público, para bancário no BRB.
Seis meses depois, foi chamado para técnico no STF.
O jovem também foi aprovado para analista no Conselho Nacional do Ministério Público e para outros 3 concursos públicos. Atualmente, ele estuda para a segunda fase do concurso de delegado de Polícia Civil.
Reflexão e gratidão
Hoje, aos 33 anos ele pensa: "É uma antítese entre o malex do aeroporto e uma mesa de servidor do Supremo, que já me fez chorar muito. É uma junção de bênção, que se chama de sorte, com também aproveitamento de oportunidades".
"O amor das pessoas (mãe e irmã) que num gesto lindo tomaram uma decisão a ser seguida: amar o próximo e não apenas amar, mas principalmente agir pra fazer a diferença na vida de alguém!",
Sobre a popularidade, depois que o caso saiu na imprensa, Ismael disse ao SóNotíciaBoa: "Não sei lidar muito bem com isso não! Mas espero que esteja sendo edificante para as pessoas, afinal foi por isso que permiti a matéria!", conclui.