(Foto: Reprodução Google)
Parte da minha educação básica foi adquirida no Grupo Escolar Barão de Aracati e no Ginásio Marista. Sou eternamente grato a Deus e aos meus pais por tão grande conquista, fase de ouro da minha vida. As lembranças dessa quadra da vida, tão espetacular, ainda pulsam no meu coração, como substância indispensável que me anima e que me incentiva a prosseguir lutando pela vida. Nesse exercício, por associação de ideias, vem ao meu espírito o rol das matérias lecionadas.
As crianças da minha época, de modo geral, viviam integralmente sob o tacão dos mais velhos, como ainda acontece, embora em menor grau. Não havia contestação das sentenças proferidas pelos professores, por receio ou ignorância, já que as mesmas soavam como de natureza induvidosa. O professor, desse jeito, era tido como o detentor de todo o conhecimento, cabendo ao aluno simplesmente acatar seus ensinamentos. Faltava, pois, diálogo entre docentes e discentes.
Foi nesse ambiente que minha geração cresceu, adquirindo, muitas vezes, conhecimentos de pouco destaque, que não contribuíam para nosso crescimento. As aulas de História, por exemplo, configuravam-se dentro desse arbitramento desarrazoado. Nesse passo, aprendíamos fatos históricos de outras regiões, em desfavor de bem conhecer a rica história aracatiense, vetor de grande importância para se entender a saga da colonização do próprio Ceará. Mesmo atualmente, grande fatia da população aracatiense ainda desconhece como se deu a colonização do município. Não cabe culpa aos aracatienses, certamente. Faltou apenas um braço forte para inserir a história do município na do Ceará, mesmo que à margem da grade curricular oficial do ensino básico.
Durante esse período, desconhecíamos que uma das primeiras tentativas de colonização do Ceará se deu com a chegada de Pero Coelho de Souza ao município de Aracati em 1603, quando fundou um pequeno forte com o nome de São Lourenço, hoje cidade do Fortim. Alguns historiadores discordam de que Pero Coelho de Souza tenha sido o fundador do aldeamento de Aracati. Defendem que ele apenas tenha passado pela foz do Rio Jaguaribe, sem deixar, entretanto, qualquer vestígio de sua travessia. Assim, negam a ele a autoria de idealizador da construção do primeiro núcleo habitacional que se chamaria Aracati, posteriormente.
Afastada a hipótese de Pero Coelho de Souza, podemos afirmar com certeza que a primeira passagem de homens brancos em terras aracatienses se deu a partir de 1634, quando uma leva de colonos portugueses, pernambucanos e rio grandenses, fugindo da guerra holandesa em Pernambuco, se estabeleceu às margens do Rio Jaguaribe. A invasão dos batavos foi um estímulo marcante para a colonização do Ceará. Esse movimento migratório, contrafeito, se deu em duas vertentes. A primeira, a mais numerosa, partiu de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, composta por criadores de gado, vindo esbarrar à margem direita do Rio Jaguaribe.
A outra, vinda da Bahia, margeou o Rio São Francisco até alcançar as terras litorâneas de Aracati. As duas bandeiras se misturaram no mesmo local, fundando, de fato, o aldeamento de Aracati. Hoje, se trabalha com a possibilidade de que esses colonos já tinham informações dos elementos naturais do município de Aracati: sal, vento e terras propícias à criação de gado. E foi assim que mais tarde floresceu a atividade mercantil mais importante do município: o pioneirismo da produção da carne de charque no Brasil.
Fortaleza, 27 de março de 2024
José Nilton Fernandes
