“Luiz, respeita Januário”. No dia do aniversário de Luiz Gonzaga, um verso de uma canção do mestre nos ajuda a contar a história de outro mestre e seu respeito pelos pais. Mateus Araújo concluiu o mestrado e decidiu celebrar a “formatura” com eles, no sítio em que moram em Boa Vista, no Cariri da Paraíba, mostrando que seus pais é que são os verdadeiros mestres.
“Meus pais não chegaram a concluir o ensino fundaental, mas sempre fizeram questão de me incentivar a seguir o caminho da educação“, conta o filho orgulhoso. José Roberto tem 56 anos e Margarete do Vale, 54. Os dois são agricultores e, além de Mateus, têm uma outra filha de 29 anos.
Na graduação, nada de festa ou ensaio fotográfico. O dinheiro tinha limite, o sonho não. Terminou o curso, passou a trabalhar e no mestrado a realidade já era outra. “Foi aí que tive a ideia de fazer o ensaio no sítio ao lado dos meus pais com o intuito de proporcionar a eles a sensação de estarem se formando comigo”, explica.
E esse é o melhor ensaio fotográfico que você verá hoje:
“Meus pais sempre foram os meus maiores mestres, os meus maiores incentivadores, meus fãs incondicionais, sempre choraram comigo, de tristeza e de alegria, sempre vibraram em cada uma das minhas pequenas grandes vitórias”, disse.
“Eu estou aqui também por eles. Estou aqui por reconhecer a luta dos meus pais de vencer na vida. Fiz esse ensaio com eles para que eles fiquem cientes que são os maiores mestres que eu poderia ter nessa vida, é uma forma de dizer que eles venceram”, falou.
Da porteira da propriedade até a casa da família, tudo se encheu de uma atmosfera diferente. Nem é tempo de colheita no sítio de seu José mas a alegria de ver o filho mestre é mesmo que chuva na terra árida do Cariri.
E teve até certificado para os pais. “Foi, sem dúvidas, um dos momentos mais bonitos e mais especiais da minha vida. Quis ‘me formar’ junto deles. Fiz questão de proporcionar a eles essa sensação de conquista. Confeccionei até certificados para os meus pais, de forma simbólica, atestando o êxito em sempre me incentivarem a seguir o caminho dos estudos”.
Mateus enfrentou dificuldades para se formar em Jornalismo em outra cidade e cursou a pós-graduação na capital. “Da alfabetização até a conclusão do ensino médio sempre tive que ir e voltar caminhando pra escola por não ter transporte. E durante todo esse tempo foram inúmeras as situações que precisei enfrentar, seja na chuva ou no sol”, relembra.
O filho de seu José e de Dona Margarete tem 26 anos. “Sou fruto do ensino público: da alfabetização ao mestrado”, reconhece. Ele não tinha sequer computador, fazia os trabalhos da universidade manuscritos. “O meu caminho até aqui não foi nada fácil, confesso”. Mas o dia não é de confessar, e sim de professar a conquista.
O jornalista e agora mestre é um cronista de mão cheia. Retira da terra onde viveu a substância para escrever. Cava com palavras aquilo que seu pai faz com a enxada diariamente, trata o arado do texto tal qual seu José faz no roçado.
“E, também por isso, meu ensaio fotográfico de conclusão de mestrado não poderia ser diferente, tinha que ser no sítio, no meio do Cariri paraibano, junto com meus pais, os personagens principais da minha vida e das minhas crônicas”, finalizou.