Pela primeira vez desde sua fundação, em 1809 (213 anos atrás!), a Polícia Militar registrou uma mulher trans como tenente-coronel da corporação.
Maria Antônia, da PM do Distrito Federal, tem 60 anos e hoje está na reserva remunerada.
No início deste mês, ela foi à sede da PM-DF retificar os dados em seus documentos militares, se tornando a primeira transexual a chegar a uma patente tão elevada.
“Estou em uma posição de alegria e, ao mesmo tempo um local de visibilidade, um local de fala importante, para a comunidade trans”, disse Maria Antônia, enfatizando que a conquista abre portas na corporação.
“Não apenas da minha história, mas das pessoas trans que vieram antes de mim e que virão posteriormente. Existe uma questão de espaço, de visibilidade para a comunidade”, disse a coronel da PM.
Em entrevista ao portal G1, Maria Antônia disse que foi admitida na Polícia Militar em 1987. Pouco depois, foi uma das fundadoras do 5º Batalhão, no Lago Sul, dedicado ao policiamento nos setores de embaixadas.
Ao longo dos anos, ela serviu no 1º Batalhão, na Asa Sul, no 2º Batalhão, em Taguatinga, e no 3º Batalhão, na Asa Norte. Hoje, aposentada, ela vive no interior do Rio Grande do Sul.
Para a tenente-coronel, as pessoas trans precisam de mais assistência do estado. “A comunidade é muito desassistida, em vários sentidos, inclusive com relação a aspectos que envolvem saúde, empregabilidade e vulnerabilidade social“.
“É preciso dar visibilidade. Mas, para que haja visibilidade, as pessoas trans tem que estar vivas, e isso, no Brasil, se limita a 35 anos de idade, quando na população CIS, a estimativa de vida é de 70 anos”, complementou.
Dos últimos quatro anos pra cá, após deixar a PM, Maria Antônia passou por um processo de transição e intervenções cirúrgicas.
Conhecida como “transição segura”, essas intervenções envolvem o reconhecimento, identificação e aceitação própria.
“Você precisa se amar, e também ser feliz com a sua essência. Esse é um processo que varia de tempo para cada pessoa, não há um tempo definido”, contou.
São diversas etapas ao longo dessa caminhada. “Por exemplo, as questão de acompanhamento médico, psicológico, e eventuais cirurgias. Mas as cirurgias não são um processo obrigatório, e nem definem nenhuma mulher trans ou travesti”.
“O que define é a sua identificação e reconhecimento como pessoa do gênero feminino. Por isso é tão necessário que se use o tratamento de pronome correto, em respeito ao nome social”, complementou a tenente-coronel da PM.
No dia em que foi retificar os dados em seus documentos militares, Maria Antônia disse ter sido muito bem recebida pela Polícia Militar.
“Fui recebida de acordo com a legislação vigente, com respeito. Fui tratada corretamente, no gênero feminino, como mulher, e não houve burocracia. Foi uma tramitação rápida, fácil. Eu tenho só a elogiar a forma como fui atendida na corporação”, afirmou.
Sobre seu processo de transição, ela destacou que não há idade ou momento certo para quem é trans. “Em qualquer idade, o importante é manter a sua essência, que tem início no seu início de vida e vai até o final da existência. Então, é preciso respeitar sua própria essência e seguir os passos para cada transição ser segura”, disse.
“As pessoas que estão no processo de transição devem seguir o seu próprio ritmo. Cada pessoa deve respeitar a sua essência e, de uma forma bem objetiva e clara, ser feliz. Viva a tua essência em plenitude. É a tua vida e a tua existência. Isso é o que importa”, completou.
Fonte: Correio Braziliense