Em outubro do ano passado, Beatriz Hubner, de Mutum (MG), sofreu uma queda de 9 metros de altura, tendo traumatismos ósseos por todo o corpo.
A jovem de 18 anos precisou ficar 35 dias internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Lucas, em BH, se recuperando das fraturas e coágulos causados pelo acidente.
Apesar do quadro de melhora, a saúde mental da adolescente, que sofre de depressão, ainda preocupava a mãe, Gesiane Hubner, 39 anos.
Tudo começou a mudar em novembro, quando Beatriz foi transferida para o Hospital Vitória, também na capital mineira, para o início das sessões de reabilitação.
Ali, ela passou a dividir quarto com Josiana Pinheiro Lenci, 43, uma moradora em situação de rua que havia passado por diversos hospitais do estado após ser covardemente agredida e espancada por colegas.
Josiana foi abandonada sem receber quaisquer cuidados médicos e acabou perdendo o movimento das pernas bem antes de ser internada no hospital.
De acordo com o portal UOL, a mulher havia sido adotado quando criança, mas perdeu os pais no início da vida adulta, época em que passou a morar com as irmãs adotivas.
A má convivência com elas forçou Josiana a abandonar sua casa e ir morar nas ruas.
“A gente chegou, a Josiana estava sozinha no quarto. E a Beatriz ficou na outra cama. A Josi sempre brincou com ela, tentando interagir, mas ela não reagia. Até que um dia a Josi brincou que ia levantar da cama e puxar os cabelos dela. Aí a Beatriz começou a rir e falou assim: ‘Como você vai vir aqui puxar meu cabelo? Se você nem anda?’. E aí a Josi disse que dava um jeito”, lembrou a mãe de Beatriz.
“Elas começaram a brincar, a conversar, a Josi fazendo as graças dela, e a gente foi conversando e descobrindo a história dela e eu acredito que a Beatriz pegou a história de vida da Josi como um aprendizado”, disse Gesiane.
Elas nem sequer imaginavam, mas dali a alguns dias, “adotariam” a moradora de rua.
Beatriz e Josiana dividiram o quarto no hospital até dezembro, quando a jovem teve alta. Ela sofreu para deixar a unidade hospitalar, já que não queria deixar a amiga para trás.
Felizmente, a dupla se reuniu de novo em 23 de dezembro, quando Josiana teve alta e, com a autorização da assistente social que a acompanhava a moradora de rua, pôde ir para a casa da família Hubner.
“É um propósito que Deus que eu fiz, gratidão por ele ter devolvido a vida a Beatriz e por a gente ter parado ali naquele quarto com a Josi, que era moradora de rua, que precisava de cuidados após receber alta. Eu senti vontade de ajudar de alguma forma”, explicou a mulher, que tem mais dois filhos adolescentes.
O desafio agora é manter os cuidados com a nova integrante familiar e com os filhos. De toda forma, Josiana se adaptou com facilidade à casa e aos demais filhos de Gesiane.
A renda também é um empecilho, pois a família inteira se mantém com apenas um salário mínimo, da filha mais velha, com o Auxílio Brasil e com os serviços informais que a chefe de família.
Por isso, foi aberta uma vaquinha virtual para ajudar com os custos elevados de fisioterapia e medicamentos de Josi, além de um possível carro para ajudar no deslocamento da mulher que até alguns meses atrás, vivia em situação de rua.