As canções do Lupicínio Rodrigues
De uma história de amor somente sabemos como começa. São juras, declarações amorosas, palavras adocicadas e carinhosas que sinalizam alcançar o ápice da Felicidade: Amar e ser Amado. No entanto, o amor que tanto buscamos e desejamos, tem pelo caminho pedras e espinhos que nos ferem deixando profundas cicatrizes algumas delas nunca cicatrizadas...
Tudo começa quando:
“ Deixa o sereno da noite, molhar teus cabelos que eu quero enxugar amor, vou buscar água na fonte lavar os teus pés amor”...(Exemplo)
Com o tempo, a rotina e o cotidiano vão corroendo as relações, e as dúvidas e desavenças começam a surgir trazendo inseguranças e incertezas:
“Quando o coração tem a mania de mandar na gente, pouco lhe interessa a agonia que a pessoa sente. É por isso que vivemos brigando toda vida. Ele dizendo que sim, eu dizendo que não”... (Eu e meu coração)
Uma realidade bate a porta e exige uma decisão. E tem que ser tomada porque a caminhada em busca do amor sofre a influência decisiva do coração, e nesse caminho ele é o carro condutor da procura por outro bem por outro amor.
“Vejam como as aparências enganam, como difere a vida dos casais, não são aqueles que mesmo se amam, que sempre moram em lugares iguais. Uns se casam porque se querem outros somente por comprazer”... (As aparências enganam)
Sim, não há de haver retrocesso na busca pelo amor verdadeiro daqueles que o procuram, e nessa procura, toda a humanidade caminha na esperança de sempre encontrar. Todavia acontece os empecilhos e os desencontros:
...”Se deixo de alguém, por falta de carinho, por brigas e outras coisas mais, quem me aparece no meu caminho tem os defeitos iguais”.... (Foi Assim)
A busca pelo perfeito é inútil e jamais alcançável particularmente nas coisas do amor e da paixão. A maior dádiva que um homem uma mulher possa receber nessa vida é ter a benção e o prazer de Amar e ser Amada essa assertiva também está destinada ao homem que tem essa felicidade. Os desencontros e as magoas trazem ao amor os sentimentos mais doentios febris da natureza humana que vão ao encontro das situações mais extravagantes e degradáveis:
“Repare bem que toda vez que ela fala, ilumina mais a sala do que a luz do refletor, o cabaré se inflama, quando ela dança e com a mesma esperança todos lhe põe o olhar”... (Quem há de dizer)
Sim, na esperança de encontrar o amor não fazemos distinção. Quando o fracasso amoroso nos acompanha, vamos tentar encontrar em outras vítimas fracassadas no amor, o consolo nos ambientes mais inóspitos e indesejáveis onde o amor posso ser encontrado. Porém algumas vezes acontece...E o inverso pode acontecer como se sucedeu, por isso assim penitenciado:
“Deus concedeu-me o direito de eu mesmo ferir meu peito, não quis o meu crime julgar. Bem feliz é todo aquele que erra e aqui mesmo na terra pode seu crime pagar. Joguei uma jovem ao rigor dos caminhos a trilhar por um monte de espinhos, vejam só a maldade que fiz” (Meu Pecado)
A partir de então foi como uma maldição de atribulações desgostos e traições a trajetória que a vida traçou mostrando quão trágico e perverso pode ser a existência daqueles que sofrem perdidamente de um amor não correspondido:
“A minha dor é enorme, mas eu sei que não dorme que vela por nós. Há um Deus sim, há um Deus e este Deus lá do céu há de ouvir minha voz.” (Há um Deus)
Quando o desespero e a desesperança se aglutinam, a voz dos desesperados clama aos céus em busca do consolo, da explicação, do abrandamento do sofrimento, como a última fronteira a ser alcançada para conquistar a salvação:
“Então porque é que o senhor mandou Cristo aqui na terra semear amor, se quando se tem alguém que se ama de verdade serve de riso para toda humanidade, é um covarde, um fraco, um sonhador.”. (Loucura)
Quando chega então o arrependimento e o mal que causamos por puro egoísmo e vaidade; aí então fatura vai nos chegando cada vez mais acrescida da soma dos nossos sofrimentos e do remorso pela dor que causamos naquela que talvez tenha nos amado de verdade:
“E o remorso está me torturando, por ter feito a maldade que fiz, por um simples prazer fui fazer meu amor infeliz” (Ela disse me Assim)
Depois da perda, a reconquista é mais sofrida e amarga. Pois as dores causadas, as palavras malditas que ferem mais que navalhadas na carne, marcam a alma que as vezes perdoa, porém não esquece, e ficam os ressentimentos:
“Quantos noites não durmo a rolar-me na cama, a sentir tantas coisas que a gente não pode explicar quando Ama? O calor das cobertas não me aquece direito não há nada no mundo que possa afastar esse frio do meu peito. Volta.” (Volta)
As mensagens se sucedem continuamente a cada resposta negativa, a cada bilhete devolvido, as cartas devolvidas sem abertura dos selos. A Insistência perde aos poucos sua validade de reconciliação:
“Saudade, não esqueça também de dizer que é você que me faz adormecer, pra que eu viva em paz.” (Nunca)
Sabemos que a saudade não traz paz nem muito menos faz adormecer. A dor de uma saudade acende o coração deixando em brasa todo o corpo que estremece pelas lembranças. A saudade mata e não fere, e a dor que saudade deixa, a medicina não cura.(Indio Moreno)
Agora quando o curso da vida descamba para o ocaso, o aprofundamento das desilusões vai se tornando mais visível e não esconde mais nada do passado, ficam expostas para serem vistas sentidas e vingadas:
“Há pessoas de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, mas não sei se passando o que eu passo, talvez não lhes venha qualquer reação”...(Nervos de Aço)
E vem o consolo em forma de vingança, de peito lavado, desejando o mal por não ter força para contornar seu desgosto. Se conforma em lamentar o infortúnio causado por um desamor:
“Ela há de rolar sobre as pedras, que rolam na estrada, sem ter nunca um cantinho de Seu para poder descansar”....(Vingança)
E continua então como Castigando à mulher mostrando sua fraqueza e decadência física e enaltecendo o altruísmo do homem perante a diversidade da vida:
“A mulher quando é moça e bonita, nunca acredita poder tropeçar, quando os espelhos, lhe dão conselhos é quem procuram em se agarrar... Quanto ao homem que é homem faz qual o cedro que perfuma o machado que o derrubou! (Castigo)
E diante da fragilidade da mulher arrependida que pede abrigo e um pouco de carinho ou caridade, em tom de desprezo e indiferença, responde aos seus apelos com o mesmo sentimento de piedade que se oferece aos que imploram as migalhas:
“Vou te falar de todo coração, eu não te darei carinho nem afeto, mas para te abrigar podes ocupar meu teto, para te alimentar podes comer meu pão.” (Cadeira Vazia)
Nada, mais nada mesmo, pode consolar o coração de um ressentido por uma traição amorosa. Por isso seu sentimento de tristeza se expõe no símbolo mais expressivo da dor que é a Lágrima:
“Se a lagrima é tão maldita que a pessoa mais bonita, cobre o rosto para chorar e refletindo um segundo, resolvi pedir ao mundo que me fizesse um favor para que eu não mais chorasse que alguém me ajudasse a encontrar meu amor”. (Um Favor)
E finalmente um recado desiludido com o Amor endereçado aos Moços:
“Esses moços.... Se eles julgam que há um lindo futuro só o Amor nesta vida conduz, saibam que deixam o Céu por ser escuro e vão ao inferno a procura de Luz. Eu também tive nos meus belos dias, essa mania e muito me custou. Pois só as magoas que trago hoje em dia e estas rugas o amor me deixou” (Esses Moços)
A Felicidade?! Sim a felicidade?....
“A minha casa fica detrás do Mundo, onde eu vou em um segundo quando começo a cantar, o pensamento parece uma coisa à toa, mas como a gente voa quando começa a pensar.... (Felicidade).